24.4.11

Fim de semana

É incrível como fim de semana é um marco incrustado em nossa vida desde sempre.
É própria suscetibilidade do tempo , que parece guardar os encantos para os últimos e primeiro dia da semana , já que segunda é o segundo dia.
Depois da gênese do mundo , dizem que Deus descansou, e confessadamente , parece que não é isso o que se pretende no fim de semana.
Qualquer criatura , um pouco mais jovem , certamente achará essa idéia coisa de velho.
O fim da semana é o óóó. Sim , tem a senha dos demônios que se agitam e saem em procura , não sabemos exatamente do que , mas que interessa isso? O gostoso do jogo é ir a caça , sem saber exatamente o que caçar." Procura-se" dizem as placas imaginárias , e vamboraaaaaaaa, que hoje é festa. Todo mundo se melhora na frente do espelho , roupinha mais de acordo com a ocasião , adornos femininos e cheiros masculinos invadem o éter visual e olfativo , todos prontos e vamboraaaaaaaa, hehehehhehe , pra onde mesmo ?
Liga aí , liga aí pra fulana ... e aí meu irmão cadê tu? qual é a boa de hoje?
Congestiona-se as linhas telefônicas que fazem sorrir a qualquer operadora, que não cessa de incentivar o consumo com novas promoções . Sabem perfeitamente que o YANG juvenil quer é mais e que se dane o resto . Difícil contabilidades nesse momento , real demais não tem graça , afinal o jogo é imaginário.Preços se vêm depois , não é hora disso, e por favor não estraguem o barato. Se há verdade que tudo se repete e que conflitos inter-geracionais existem desde que Adão e Eva tiveram seus filhos , diria que hoje o objeto da disputa é o telefone , com seu universo complexo e caro. E não tem retorno, a ânsia de comunicação fez disparar os meios , e estar junto vale tudo . A grupalidade que se configura é da ordem de um elo tribal , onde os amigos também são vistos como parceiros de guerra . O anonimato e a imensão do desconhecido social são ameaçadores e atiçam velhas inibições , de formas que ir pra "night ", além de ser uma senha de guerra é também um pedido de companhia . Se faz necessário alguém ou alguéns para se sentir seguro e poder brilhar , senão só o canto e a timidez.
Muita coisa então acontece, e muitas outras ficam por acontecer , promessas que deverão se desenrolar durante a semana às custas de muita falação e muita briga com os pais para se diminuir o tempo de conversa no telefone , que mesmo sendo particular , a conta é paga por outro . A internet tem facilitado a vida com as redes sociais , trazendo outra questão do cotidiano familiar , a hora de dormir.
Mas , essa fome imaginária , talvez exarcebada pelas mudanças líquidas que Bauman aponta , parece ter haver com o modo compacto como as inconsistências convergem e parecem verdadeiros bolsões de um mundo à margem , um mundo que parece ter sido feito mais para ensaiar do que para se efetivar.
O fim de semana é a hora da verificação dos detalhes, o acabamento para se verificar o desempenho ,o teste narcísico do brilho , do fulgor , as novas cores do velho desejo de ser amado .
Obviamente, que estamos falando do modo como o dia é o lugar dos preparativos , sendo a estrela , a noite em duplo sentido . O céu por inspiração , a lua como testemunha silenciosa e os dois como símbolos, hoje, pouco participantes do cenário relacional . Parece não haver tempo de olhar pra cima e não se acredita que o destino possa, de fato, estar escrito nas estrelas.
A sexta- feira de santa não tem nada , nem mesmo no dia próprio, não há a grosso modo, grandes entusiasmos santificados , mas é um bom dia para se apreciar a manifestação que o desejo provoca . Para muitos , a noite, principalmente , é o limiar da vida de casado e de solteiro , vive-se uma liberdade com gosto de perdida , onde as aventuras foram substituídas por deveres e obrigações e esse espaço rápido é o meio de recuperá-lo , enquanto o ponteiro do relógio não lembra, que é hora de voltar.
Muitas voltas optam por serem bêbadas , ou disfarçadamente assim , pois não há como negar em tão pouco tempo , a passagem de um lugar ao outro , um de descontração expulsiva , outro de contração e tentativa rápida de recomposição estética e moral .
Entra-se então no sábado , já com outro gosto , dependendo aí das faixas etárias respectivas, pois para uns é a família , os encargos que exigem desempenhos de leveza e que por isso , correm o risco de serem feitos com mau-humor . São as crianças que querem brincar , o supermercado por fazer , a visita à família nuclear, pai , mãe , irmãos ,e tomara que o casal goste da família ,um do outro.
Muitos trabalhos também são feitos nesses dias , mostrando que a vida moderna tem uma fluência permeável , e muito do espaço doméstico é invadido com tarefas profissionais , que faz requerer mais compreensão nas divisões das tarefas onde as mulheres , em geral, acabam ficando com os filhos , para seus maridos trabalharem.
Quando o serviço é em casa , o cenário emocional é um ,mas caso seja no lugar de trabalho dele, é outro , pois não raro , existe a suspeita do que há além do trabalho.
A noite de sábado , então ,é a grande hora do lazer merecido .
Subtraí-lo tem preço , é o ponto onde a vida mais faz suas contas , pois tem-se o registro do quanto a jovialidade é um extroversão , uma participação na atualidade das ofertas sociais.
Uma boa peça , um filme , uma festa, um lugar pra dançar , siginificam um estar-aí atual , um lugar inclusive que serve para comparações do como se está, e é hora de algo diferente.
Observa-se a moda, os cenários , o se comportar em público , aguça-se a inteligência , atualiza-se as conversas, enfim , fica-se por dentro , já que ficar fora,tem o estranho gosto de quem já começou a morrer . Numa sociedade ativa e dinâmica quem não tem o que falar tá morto socialmente , um tipo de exclusão dos culturalmente pobres , que começa pelo escasseamento de convites para participar . Vive -se a dor solitária de se estar sendo excluído, sem que se tenha cometido nenhum crime , a não ser o fato, de que estamos sendo colocados na lista dos desinteressantes.
Esse sentimento sempre presente , pouco reconhecido e nomeado , é responsável por uma série de obesidades de homens e mulheres , que por sua vez , resolvem cumprir juntos a sentença desse tipo de anônimato. Tornam-se parceiros e cúmplices ressentidos, de um esquecimento do mundo e não raro se entregam a construção de um espaço onde se vingam do mundo lhe permitindo entrar muito pouco. Um estranho modo de alienação moderna , onde a casa é o refúgio e o cemitério das próprias desistências , com aumento guloso da boca, que se encarrega de trazer os prazeres mais perto e imediatos.
Nesse caso , o sólido volta e faz volume e peso , pois , a falta de um intercâmbio renovador , produz estagnações onde o chamado ganho secundário que Freud aponta nas doenças, dá a mesmice uma feição arrogante , onde os conflitos se acomodam por medo , e se tornam um lugar comum na retórica do convívio.
O fim de semana , nesses casos é uma repetição de um mesmo enrêdo surrado e triste , onde a desistência ao espiríto renovador das forças da vida pela alegria e pelo descanso já não permite que muitas coisas aconteçam, pois se perdeu a escuta do que é novo.
Se fica velho e se envelhece tudo.
Em muitas casas , ao atingir o espírito da juventude alheia , muitas pelejas são travadas por muitas vezes de forma histérica, sem que as verdadeiras razões apareçam , pois admitir modos em que a vida entrou em ordem de desistência , levaria impreterivelmente a necessidade de aprofundar o mal.
Já de outra forma , muitos casais celebram o início , o gosto de projeto , o descortinar de um futuro desde já . Esses estão aí e é fácil identificá-los , sempre buscam o que fazer e mesmo o não fazer , já é um fazer , pois curtem o estar juntos , o acasalamento já é o programa.
Não curtir o sabádo a noite parace ter um preço , que os casais jovens que têm filho pequeno, sabe o quanto custa ,e não é raro vê-los se esforçando , pois excluídos do grupo dos que não têm , fazem programas no novo clube dos que têm , e naturalmente os programas mudam e ficam menos noite a dentro, entrecortados pela atenção que os menores requerem .
A vida entra em níveis de complexidade exigente , que vai desde a atenção focal da hora de mamar , o choro gritão que nem sempre tem as simpatias do social , a criaturinha que um pouco maior quer atenção e não deixa conversar os adultos , descobre-se então ,que sem amiguinhos é impossível vida social.
Essas forças que regem a vida de dentro pra fora são poderosas , e muito do que se vê no externo é minímo em relação ao de dentro , e mesmo uma dia ao teatro ou cinema pode requerer muito trabalho para alguns.
Quando se perde o gosto da diversão , tudo complica , pois é necessário lembrar que , diversão quer dizer diversos , a capacidade de comoção no diverso , no que é diferente.
Há uma tentação em sucumbir , principalmente pela acomodação , talvez , mais expressiva no domingo , dia dedicado a família , ao almoço familiar , a visita , ao programa doméstico , que as televisões sabem como ninguém .
Alegram o universo masculino com o futebol e propõem cores e movimentos rápidos em seus programas interativos , para que a acomodação não fique tão pesada e o tal sofá , seja o trono mais adornado do rei que se refastela , em uma suspensão sonolenta ou já pensando no dia de amanhã.
A noite de domingo , cujas chamadas televisivas já indicam o fim do fim de semana ,e uma aurora de um novo início , em geral , recebido com má-vontade , é o limiar onde a vida e a morte se combinam , dando ao grande e temido "Cronos o rei do tempo" o valor do seu poder, pois tudo de novo, como um carrossel, cujos atores aos poucos vão ficando atordoados , suspeitando que além disso , a vida deve ter em mente outra coisa que não uma repetição, cabe-nos descobrí-la.
Ao se ter em conta todos os trabalhos e investimentos que se dispende para viver e tendo a própria experiência como referência , é difícil não pensar no como deveríamos ser mais solidários e o quanto a organização do espaço social carece de planejamentos que facilite o custo de nossa vida em comum .
Escolhi algumas situações mais específicas ,sem negar que existem outras situações ou tipologias , para quem o fim de semana não tem nada haver com isso.
Perguntei então a um mendigo o que era pra ele o fim de semana, e tive como resposta de que há mais gente na rua e que dessa forma as ajudas são mais constantes . Mas , não percebi nenhum entusiasmo particular por isso . Penso que os despossuídos , talvez não tenham rituais a cumprir , pois o público se foi . Vejo-os deitados e dormentes sem grandes variações, me fazendo desconfiar que já não há tanto o que celebrar , e que o tempo é também relativo aos modos de ocupação diferenciada.
Mesmo os desocupados sofrem e muito de tédio , uma rotina amarga e mesma , a rua se pra muitos é símbolo de liberdade, diria que é muito mais a paralização do que já não há , um ritual mínimo que aos poucos vai sendo sugado por sua própria destruição .
Que tal compartilharmos nossos escritos sobre o fim de semana , me escrevam.
Ao acabar de escrever , soube da morte de SATHIA SAY BABA , o grande Mestre do Amor que fez sua passagem na Índia onde morava , sem dúvida, uma enorme perda.
Até amanhã , hoje é domingo.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Há ou não inveja do pênis?