26.5.11

GENTE COISINHA

Já ouviram falar de gente coisinha?
Mas de pronto, arrisco que gente coisinha, tem tendência para o menor.
Embora mais popular, do que reconhecida ou nomeada ,o sucesso das tipologias é que com pouco , você identifica.
O chato, por exemplo , mal você vê e imediatamente teu metabolismo muda e você se esquiva , às vezes de forma sutil ,e às vezes afrontosamente.
O pernóstico , aquele pentelho que se acha , sempre a procura de palco e platéia , um saco e você já entra numa de competir mesmo não querendo , ou querendo, e é mexido nas inferioridades e superioridades narcísicas.
Estes são apenas dois exemplos , mas vamos falar de gente coisinha .
O que é gente coisinha?
Como o próprio nome indica é aquela gente que tudo diminui , que tudo tem defeito , que tudo nunca tá bom, é aquela criatura menor e que não saca isto , e que fica tentando te convencer à entrar na dela .
Entram nas situações pela porta dos fundos e de imediato buscam o defeito , o que criticar , o que mal-dizer . Por vezes, parecem ter o que dizer ,e quando em geral têm um pouco de cultura, de certa forma um tanto anã , ficam tentando enfiar o mundo ali de qualquer jeito, o que lhes obriga à criar opiniões intocáveis e de arrogâncias particulares.
Adoram cumplicidades e às amizades se referem a um tipo de conluio por aprovação, onde a regra é concordar, o que torna estas criaturas pobres no convívio, pois impõem uma suspensão da crítica , no intuito de não serem criticados pelos seus modos mesquinhos.
Parecem sensitivos dos defeitos alheios e completamente cegos em relação aos próprios e independentemente de raça, credo, cultura habitam o mundo mental em todos os níveis sociais , não havendo desigualdes hierárquicas.
A grandeza da vida parece invejada e os outros também , pois se sentem denunciados facilmente por qualquer coisa , ato ou situação que mostrem o quanto lhes falta identidade com o maior, por isso vivem oprimidos pela insegurança de seu próprio valor.
Não perdem a oportunidade de faturar em cima de quem quer que seja , não importando aqui o constrangimento do outro , sempre coadjuvante para uma boa cena.
Mas o que talvez caracteriza mais o coisinha, é que sem escuta mais apurada ,e sem comprometimento pessoal , se autoriza a blefar sem grandes escrúpulos , pois a verdade só é importante como versão de suas razões , enfim, uma subversão das máscaras , a caricatura do que nunca foi e nem poderá ser.
Eis aqui o sofrimento irrecusável, pois como não há conquista que possa ser mostrada, o coisinha se transforma num personagem de seus próprios enredos fantasiosos , em que por uma lado lhe induz ao temor de ser denunciado e por outro lhe seduz um brilho que não tem pois não conquistou.
É ôco e de difícil penetração , pois, se deixar ver, poderia ser um golpe fatal, ou seja, à admissão da inconsistência dissimulada numa teatralidade de ocasião. A sempre sensação de algo que simula estar, com certo estrondo ou de forma emudecida , mas não está , uma presença por dever.
O que parece também interessante é que o coisinha não tem noção do que suscita nos outros, já que seu sistema de crença o faz acima do " simancol", isto é, não se manca, o que torna sua presença a marca de seu estereótipo , já que a dialética do te ver -se vendo fica prejudicada.
Há aqui um certo círculo neurótico que se volta contra si , pois na medida em que não há essa dialética e o outro vira uma projeção maciça de pouco retorno , o sentimento de rejeição passa a ser constante , pois dessa forma perde-se o que o contato tem de abertura e renovação , onde o outro é uma alternativa credenciada à mim mesmo, uma opção que só a sinceridade permite.
Ser sincero é uma arte de elite , digo, na alma , pois é a expressão do modo como cada um se tem em conta, como é seu narcisimo de vida , seu gosto de ser quem é , sua celebração por ter nascido .Quem é coisinha não se celebra , pois não tem o seu nascer na conta de um momento de grande com-sideração da vida, não vivifica à diferença que se impôs no ato de ter nascido. Em outras palavras , o coisinha não se tem na conta da diferença , o que é uma condição básica para singularidade por vir , o estilo único de uma consagração cósmica.
Este registro é o que o faz ficar prisioneiro da busca de atenção do outro , sem a segurança de estar sendo aceito e querido , é o seu tormento de afirmação, a prisão de ter que fazer malabarismo para impressionar , o seu a mais que o nascer não reconheceu.
O exibicionismo , um tanto alardeante, ou o apagamento ressentido , se interpolam num mundo pouco compartilhado e com fantasmas rudes de solidão , um estar só , na fantasia onde o outro lhe deixou, levando consigo uma parte que faz falta , e deixando o que é a marca de sua reprovação estrutural.
É o drama da rejeição um tanto incurável , pois a princípio já acha que não tem e não pode ser dado , só tomado. E o cruel, é que isto é tão verdade no plano psíquico , que por mais que se garanta não ser assim, não funciona. São os que não se sentem amado , pois o amor é a falta do que foi tirado , e deixou a estranha marca da falta de merecimento.
O coisinha é um desmerecido que se desmerece , desmerecendo o que acha não poder ter ou ser.Um tipo de inveja , que dependendo do grau leva à violência, um se apoderar do outro , em muitos casos pela humilhação e pela exposição pública onde o diminuir do outro é sua ascensão imaginária nos aplausos que acha que lhe tiraram, ou por sacanagem ou porque deram para outro .
Essa lógica rancorosa é de difícil conversa , uma inacessibilidade pela falta de uma explicação que não permite o encaixe do sentido , pois a significação não é capaz de conter elementos , por vezes de um destino estranho .
Pessoas desmerecidas são perigosas , pois recusam a ordenação da ordem social, na conta de que essa ordem , além de injusta, é o depósito do que lhe foi roubado e que dependendo do que esteja em jogo , há de ser devolvido .
Isso perpassa desde crimes hediondos , na conta de devoluções absurdas onde a vida dos outros entra como moeda corrente , até em bullings , inexplicáveis do aonde pode estar o gozo de se humilhar o outro.
Especialistas se vêm em dificuldades para explicarem isso na conta de conceitos mais convencionais , pois há aí uma enorme vigência de acerto de contas , principalmente , porque nenhuma ordem social pode prescindir das ordens do amor.
O vínculo social há de ser antes de tudo amoroso e interessado , uma ordem coletiva humana e com um olhar mais dedicado , não só ao coletivo conceitual , mas a cada membro em particular , pois os efeitos dissociativos , aqueles que muitos conseguem se esquivar ou transformar em outra coisa , para outros é a senha de uma lesão irrecuparável que o diminuem na ordem do valor pessoal , e que por isso se sentem autorizados a cobrarem ressarcimentos , que só podemos ter acesso depois.
No laboratório íntimo as forças da vida interagem , combinam e descombinam , o coisinha que há em cada um de nós , sofre pela falta de alcance e de confissão ,e que no orgulho particular refletem os brios feridos de tudo que nos obriga a ser o que não somos , inclusive ser chamados de "coisinha".
Valeu
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Há ou não inveja do pênis?