17.2.13

A CRISE INSTITUCIONAL DA IGREJA E A IGREJA DO CRISTO

 

O que estamos presenciando hoje com a renúncia corajosa do Papa ,e que expõe a intimidade da Igreja em seus escaninhos do poder e dinâmicas sombreadas entre os supostos representantes de uma das maiores instituições religiosa do mundo ,é como se diz popularmente , uma gota d’agua , num oceano de questões complexas.

O mundo , diga-se , encontra-se em crise com seus fundamentos , já que o iluminismo da razão de pronto , recusou um fundamento religioso , o maior pacote de imposição religiosa pela Igreja do Ocidente, que resultou em assassinatos de diferentes naipes , principalmente, o da liberdade de pensar.

Fundada por Jesus como projeto de continuidade de tudo que ensinava , teve em Pedro , o pescador de almas , seu primeiro representante maior  , talvez devido as características de sua própria liderança mais assertiva.

A diferença entre seus apóstolos não era desapercebida pelo Nazareno , e por muitas vezes suas intervenções , conclamava a transigência e a indulgência necessária para que o próprio convívio entre eles , já fossem os exemplos indispensáveis dos ensinamentos transmitidos .

Jesus sabia mais do que ninguém de que matéria somos constituídos , e que nossa nobreza é um projeto cujo alcance , vamos realizando a duras penas ,tendo em conta que nossa ancestralidade animalesca , não se desapega facilmente .

 A própria história bíblica é repleta de destemperos emocionais , onde os próprios representantes do Bem e do Amor , aqueles escolhidos para pregar a palavra, tinham atos nada dignos do buscavam convencer .

 Moisés , por exemplo , na chamada noite do “ Bezerro de Ouro “, estima-se algo em torno de 10000 pessoas assassinadas à seu mando , assim como João Batista , que nunca se cansou de acusar Heródes em público de sair com sua cunhada , o que resultou na sua degola.

 A linguagem , embora com a nobre tarefa de indicar o”Caminho para o Reino de Deus”, e apelando para todo tipo de arranjos simbólicos e alegóricos , não podia exigir que os homens fossem outros , já que a evolução é uma conquista lenta e milenar .

Somos a própria traição e Judas é a condenação inesquecível , justo por nos lembrar , de que nos é muito mais próximo do que o Mestre de Nazaré , com sua superioridade inquestionável de valores já traduzidos em ações , descompasso que nos é caro , já que de forma alguma podemos fazer integralmente o que pregamos.

Compreender esse aspecto deveria nos tornar mais solidários , pois temos às contradições em comum, a traição ao que desejamos e ainda não podemos conquistar , e nossa história é um repassar dessas contradições , e que embora venham a tona eventualmente , fazem parte de nosso viver diário .

A Igreja do Cristianismo chamado Primitivo , porque inicial , tinha como fundamento o Céu Aberto, o lugar de todos , único lugar possível de se desfazer máscaras sociais , importâncias do mundo com suas riquezas e brasões e que segundo o Mestre não serviam como passaporte transcendental para o Divino.

Jesus pregava com sua autoridade que o Caminho para o Divino é justo de se despojar , o ficar mais a nú espiritualmente falando , já que a Verdade não é uma simulação , mas uma conquista do verdadeiro coração espiritual , o Graal procurado por fora , mas escondido  disponível por dentro .

Se “Meu Reino não é desse mundo “ é porque esse mundo não é tão convidativo às verdades espirituais , tarefa- mor deixada à Igreja , de trabalhar para tornar esse mundo mais apetitoso a manifestação do Espírito em sua inocência santa . Mas como sustentar um inocência se todos somos contaminados pelo que mais temos de menor?

Portanto não se tratava de validar tanto o mundo com seus prazeres e encantos , menos ainda de seus poderes , palavra chave para que a subversão proposta à primazia do Espírito fosse gradualmente se perdendo , e que o Reino da Matéria com seus encantos imediatos e  muito mais rápidos em suas promessas se restabelecesse com mais força .

Ao se deixar conduzir pelo modelo do Poder do mundo , e estabelecer alianças com a nobreza numa grande barganha de interesses que só faziam afundar ainda mais o Espírito , a Igreja do Cristo tomava outro rumo , que lhe custaria caro como representante de Deus na Terra .

Intrigas , conchavos, conspirações , assassinatos , favores por troca , enfim, marcas que em nada renovavam o cenário para as boas-novas espirituais , e o Mestre Amado era de novo assassinado , agora por seus adeptos , que nunca se viram traidores , viva Judas, que se enforcou de vergonha.

O modelo acaba sendo mais forte do que os homens e não faltaram aqueles que deram a vida para chamar atenção para este desvio , queimados , trancafiados , amaldiçoados , viam o erro , gritaram , sofreram , mas foram calados , emudecidos pela força do Poder Institucional , este sim ,elevado de forma abençoada  pelo que assegurava aos poderosos, em detrimento dos mais necessitados .

Luxo , distância, ratificação da desigualdade social , julgamentos pré-conceituosos , manutenção de um lugar imaginário , mais pra tribunal e condenações do que indulgências , a Igreja parece penar a amargura da própria Lei Espiritual que ajudou a excluir , a Lei do Retorno, que nenhuma tradição espiritual respeitosa ousou tocar .

Sem o retorno , fica-se dependente de ameaças e de tribunais dos homens , iguais demais em suas fraquezas para poderem julgar uns aos outros , mesmo ameaças que procuram utilizar a invisibilidade que a morte traz , como lugar de castigos e dores , já não impressionam tanto , pois repete velhas fórmulas que o mundo já está por demais habituado .

O Mestre era pastor , e na parábola do Filho Pródigo , nos ensina o valor de trazer de volta os expratriados espirituais , os deserdados da sorte social , que diga-se ,responsabiliza a todos nós , ensinamentos profundos no campo das limitações do amor , desafios eternos e evolutivos , difíceis de entender e mais ainda praticar .

Ao incorporar um modelo de Estado a Igreja juntou dois senhores , Deus e Mamom , criando uma imagem híbrida da Divindade, que dessa forma parecia atender aos dois interesses , esquecendo que nossa evolução espiritual , não é e nem pode ser uma negociação , já que a morte vem chegando logo, quando menos se espera .

Responsável pelo Reino , que lembrando , está em Vós e não em palácios , conventos ou lugares materialmente estabelecidos como moradia do Divino ,  a Igreja enquanto pedagogia do Espírito , teria como ensinamento- mor o desprendimento , a catalização de novos modos subjetivos voltados para os estados d”alma , sincronias com as manifestações mais finas e sutis, lugares de maior requinte espiritual , onde a obediência é uma reverência ao reconhecimento do Supremo .

Nesse caso , nosso modo aqui é transitório , um laboratório de aperfeiçoamentos , herança acrescida da Grécia com sua prática das virtudes , só que tendo em conta o homem comum , os excluídos de atenção , os pobres de espírito , os que tem sede de justiça , aqueles que a Igreja primitiva acolhia com prazer e entusiasmo , pois eram fruto da ignorância de uma humanidade arrogante e interesseira .

Toda tradição do Espiríto sabe que O DEUS , O SEM –NOME, O ELE , mora no coração dos homens ,e só despertando-o , podemos iluminar a nós e ao mundo , de nossa escravidão à ignorância , nossa única paixão segundo Lacan , mas pra isso precisamos colocar o Absoluto em seu devido lugar , pra que o relativo seja nosso meio de luta e ultrapassagem , senão perdemos o rumo e a direção.

Desconfio que somos todos da Igreja aqui no Ocidente , nossa Casa Mater , nosso lugar de confissão e renovação , talvez por isso fomos optando de retomá-la pelo caminho mais singular , mais livre dessas repetições que sempre nos ensinam a mesma coisa , um caminho mais a Céu Aberto , o único lugar onde Deus é para todos , e o Cristo nos espera para trabalharmos juntos nessa magnânima tarefa de fazer brotar nesse planeta as sementes de seu Amor e dedicação .

Acredito que essa crise seja de renovação , o modo como a vida atualiza sua representação para recuperar seus fundamentos sagrados , e nos ensinar a razão esquecida de nossas origens, e consequentemente , re-oferecer a uma humanidade negligente o norte perdido de sua direção divina .

Viva a Igreja em seu labor , Viva os trabalhadores da Igreja , Viva os que conclamam a fé viva , que continuam contudo e apesar de tudo , a nutrir com seus esforços o pão verdadeiro que alimenta a alma além do corpo , a redenção que nos leva a única liberdade possível , a do Espiríto.

 

 

 

3 comentários:

  1. Creio que o eixo de todo equívoco das religões oficiais seja o fato de dar mais valor em apontar o dedo na direção do erro, e não mostrar que o erro é natural e uma oportunidade de, pela atenção e cuidado, se acertar em uma próxima vez. Alimenta assim a culpa. Faz da culpa a base para a celebração do Sagrado. Introduz o medo. A castração de vários elementos, como o lúdico, a liberdade, o imponderável. Marca e separa. Então surge "o povo escolhido", "o povo eleito", "o povo de Deus", e se esfacela o cerne de todo o pensamento dos Mestres, como Jesus, Buda, Rama..., a ideia que devemos caminhar na direção da melhoria pessoal, trabalhar as arestas e revelar as virtudes, para assim melhorar o grupo. O grupo sempre foi a preocupação dos Homens Iluminados. O grupo é o campo de trabalho da Misericórdia, da Generosidade, do Amor... Por isso, o Grandes Mestres, não fundaram Religião, e viram suas ideias dinâmicas, vivas, ativas, que demanda muito trabalho, acabarem deturpadas pela cúpula da maioria das Igrejas fundadas em cima de suas ideias, cúpula esta que se enebriou como a Ilusão do anel, da capa, da coroa... Mas, sempre é tempo de retomar o rumo. Francisco de Assis, por exemplo, continua a ter a voz soando no espaço. Quem sabe escutem? Tomara.
    Mais um belo texto, Alex. É bom dividir os pensamentos sobre coisas da Alma.
    Abrs
    do amigo
    Carlinho Nascimento

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  2. Como sempre, sensato e honesto. Parabéns, Alex; sou seu fã. Luciano Lucio

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