O que estamos presenciando hoje com a renúncia corajosa do
Papa ,e que expõe a intimidade da Igreja em seus escaninhos do poder e
dinâmicas sombreadas entre os supostos representantes de uma das maiores
instituições religiosa do mundo ,é como se diz popularmente , uma gota d’agua ,
num oceano de questões complexas.
O mundo , diga-se , encontra-se em crise com seus
fundamentos , já que o iluminismo da razão de pronto , recusou um fundamento
religioso , o maior pacote de imposição religiosa pela Igreja do Ocidente, que
resultou em assassinatos de diferentes naipes , principalmente, o da liberdade
de pensar.
Fundada por Jesus como projeto de continuidade de tudo que
ensinava , teve em Pedro , o pescador de almas , seu primeiro representante
maior , talvez devido as características
de sua própria liderança mais assertiva.
A diferença entre seus apóstolos não era desapercebida pelo
Nazareno , e por muitas vezes suas intervenções , conclamava a transigência e a
indulgência necessária para que o próprio convívio entre eles , já fossem os
exemplos indispensáveis dos ensinamentos transmitidos .
Jesus sabia mais do que ninguém de que matéria somos
constituídos , e que nossa nobreza é um projeto cujo alcance , vamos realizando
a duras penas ,tendo em conta que nossa ancestralidade animalesca , não se
desapega facilmente .
A própria história
bíblica é repleta de destemperos emocionais , onde os próprios representantes
do Bem e do Amor , aqueles escolhidos para pregar a palavra, tinham atos nada
dignos do buscavam convencer .
Moisés , por exemplo
, na chamada noite do “ Bezerro de Ouro “, estima-se algo em torno de 10000
pessoas assassinadas à seu mando , assim como João Batista , que nunca se
cansou de acusar Heródes em público de sair com sua cunhada , o que resultou na
sua degola.
A linguagem , embora
com a nobre tarefa de indicar o”Caminho para o Reino de Deus”, e apelando para
todo tipo de arranjos simbólicos e alegóricos , não podia exigir que os homens
fossem outros , já que a evolução é uma conquista lenta e milenar .
Somos a própria traição e Judas é a condenação inesquecível
, justo por nos lembrar , de que nos é muito mais próximo do que o Mestre de
Nazaré , com sua superioridade inquestionável de valores já traduzidos em ações
, descompasso que nos é caro , já que de forma alguma podemos fazer
integralmente o que pregamos.
Compreender esse aspecto deveria nos tornar mais solidários
, pois temos às contradições em comum, a traição ao que desejamos e ainda não
podemos conquistar , e nossa história é um repassar dessas contradições , e que
embora venham a tona eventualmente , fazem parte de nosso viver diário .
A Igreja do Cristianismo chamado Primitivo , porque inicial
, tinha como fundamento o Céu Aberto, o lugar de todos , único lugar possível
de se desfazer máscaras sociais , importâncias do mundo com suas riquezas e
brasões e que segundo o Mestre não serviam como passaporte transcendental para
o Divino.
Jesus pregava com sua autoridade que o Caminho para o Divino
é justo de se despojar , o ficar mais a nú espiritualmente falando , já que a
Verdade não é uma simulação , mas uma conquista do verdadeiro coração
espiritual , o Graal procurado por fora , mas escondido disponível por dentro .
Se “Meu Reino não é desse mundo “ é porque esse mundo não é
tão convidativo às verdades espirituais , tarefa- mor deixada à Igreja , de
trabalhar para tornar esse mundo mais apetitoso a manifestação do Espírito em
sua inocência santa . Mas como sustentar um inocência se todos somos
contaminados pelo que mais temos de menor?
Portanto não se tratava de validar tanto o mundo com seus
prazeres e encantos , menos ainda de seus poderes , palavra chave para que a
subversão proposta à primazia do Espírito fosse gradualmente se perdendo , e
que o Reino da Matéria com seus encantos imediatos e muito mais rápidos em suas promessas se
restabelecesse com mais força .
Ao se deixar conduzir pelo modelo do Poder do mundo , e
estabelecer alianças com a nobreza numa grande barganha de interesses que só
faziam afundar ainda mais o Espírito , a Igreja do Cristo tomava outro rumo ,
que lhe custaria caro como representante de Deus na Terra .
Intrigas , conchavos, conspirações , assassinatos , favores
por troca , enfim, marcas que em nada renovavam o cenário para as boas-novas
espirituais , e o Mestre Amado era de novo assassinado , agora por seus adeptos
, que nunca se viram traidores , viva Judas, que se enforcou de vergonha.
O modelo acaba sendo mais forte do que os homens e não
faltaram aqueles que deram a vida para chamar atenção para este desvio ,
queimados , trancafiados , amaldiçoados , viam o erro , gritaram , sofreram ,
mas foram calados , emudecidos pela força do Poder Institucional , este sim
,elevado de forma abençoada pelo que
assegurava aos poderosos, em detrimento dos mais necessitados .
Luxo , distância, ratificação da desigualdade social ,
julgamentos pré-conceituosos , manutenção de um lugar imaginário , mais pra
tribunal e condenações do que indulgências , a Igreja parece penar a amargura
da própria Lei Espiritual que ajudou a excluir , a Lei do Retorno, que nenhuma
tradição espiritual respeitosa ousou tocar .
Sem o retorno , fica-se dependente de ameaças e de tribunais
dos homens , iguais demais em suas fraquezas para poderem julgar uns aos outros
, mesmo ameaças que procuram utilizar a invisibilidade que a morte traz , como
lugar de castigos e dores , já não impressionam tanto , pois repete velhas
fórmulas que o mundo já está por demais habituado .
O Mestre era pastor , e na parábola do Filho Pródigo , nos
ensina o valor de trazer de volta os expratriados espirituais , os deserdados
da sorte social , que diga-se ,responsabiliza a todos nós , ensinamentos
profundos no campo das limitações do amor , desafios eternos e evolutivos ,
difíceis de entender e mais ainda praticar .
Ao incorporar um modelo de Estado a Igreja juntou dois
senhores , Deus e Mamom , criando uma imagem híbrida da Divindade, que dessa
forma parecia atender aos dois interesses , esquecendo que nossa evolução
espiritual , não é e nem pode ser uma negociação , já que a morte vem chegando
logo, quando menos se espera .
Responsável pelo Reino , que lembrando , está em Vós e não
em palácios , conventos ou lugares materialmente estabelecidos como moradia do
Divino , a Igreja enquanto pedagogia do
Espírito , teria como ensinamento- mor o desprendimento , a catalização de
novos modos subjetivos voltados para os estados d”alma , sincronias com as
manifestações mais finas e sutis, lugares de maior requinte espiritual , onde a
obediência é uma reverência ao reconhecimento do Supremo .
Nesse caso , nosso modo aqui é transitório , um laboratório
de aperfeiçoamentos , herança acrescida da Grécia com sua prática das virtudes
, só que tendo em conta o homem comum , os excluídos de atenção , os pobres de
espírito , os que tem sede de justiça , aqueles que a Igreja primitiva acolhia
com prazer e entusiasmo , pois eram fruto da ignorância de uma humanidade
arrogante e interesseira .
Toda tradição do Espiríto sabe que O DEUS , O SEM –NOME, O
ELE , mora no coração dos homens ,e só despertando-o , podemos iluminar a nós e
ao mundo , de nossa escravidão à ignorância , nossa única paixão segundo Lacan
, mas pra isso precisamos colocar o Absoluto em seu devido lugar , pra que o
relativo seja nosso meio de luta e ultrapassagem , senão perdemos o rumo e a
direção.
Desconfio que somos todos da Igreja aqui no Ocidente , nossa
Casa Mater , nosso lugar de confissão e renovação , talvez por isso fomos
optando de retomá-la pelo caminho mais singular , mais livre dessas repetições
que sempre nos ensinam a mesma coisa , um caminho mais a Céu Aberto , o único
lugar onde Deus é para todos , e o Cristo nos espera para trabalharmos juntos
nessa magnânima tarefa de fazer brotar nesse planeta as sementes de seu Amor e
dedicação .
Acredito que essa crise seja de renovação , o modo como a
vida atualiza sua representação para recuperar seus fundamentos sagrados , e
nos ensinar a razão esquecida de nossas origens, e consequentemente ,
re-oferecer a uma humanidade negligente o norte perdido de sua direção divina .
Viva a Igreja em seu labor , Viva os trabalhadores da Igreja
, Viva os que conclamam a fé viva , que continuam contudo e apesar de tudo , a
nutrir com seus esforços o pão verdadeiro que alimenta a alma além do corpo , a
redenção que nos leva a única liberdade possível , a do Espiríto.
Creio que o eixo de todo equívoco das religões oficiais seja o fato de dar mais valor em apontar o dedo na direção do erro, e não mostrar que o erro é natural e uma oportunidade de, pela atenção e cuidado, se acertar em uma próxima vez. Alimenta assim a culpa. Faz da culpa a base para a celebração do Sagrado. Introduz o medo. A castração de vários elementos, como o lúdico, a liberdade, o imponderável. Marca e separa. Então surge "o povo escolhido", "o povo eleito", "o povo de Deus", e se esfacela o cerne de todo o pensamento dos Mestres, como Jesus, Buda, Rama..., a ideia que devemos caminhar na direção da melhoria pessoal, trabalhar as arestas e revelar as virtudes, para assim melhorar o grupo. O grupo sempre foi a preocupação dos Homens Iluminados. O grupo é o campo de trabalho da Misericórdia, da Generosidade, do Amor... Por isso, o Grandes Mestres, não fundaram Religião, e viram suas ideias dinâmicas, vivas, ativas, que demanda muito trabalho, acabarem deturpadas pela cúpula da maioria das Igrejas fundadas em cima de suas ideias, cúpula esta que se enebriou como a Ilusão do anel, da capa, da coroa... Mas, sempre é tempo de retomar o rumo. Francisco de Assis, por exemplo, continua a ter a voz soando no espaço. Quem sabe escutem? Tomara.
ResponderExcluirMais um belo texto, Alex. É bom dividir os pensamentos sobre coisas da Alma.
Abrs
do amigo
Carlinho Nascimento
Como sempre, sensato e honesto. Parabéns, Alex; sou seu fã. Luciano Lucio
ResponderExcluiragradeço aos amigos os comentários
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