2.7.11

O PRIMEIRO FILHO

Filho
> “é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como
> amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos
> para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem.
>  Isso mesmo!
>  Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é
> se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar
> agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
>  Perder? Como?
>  Não é nosso, recordam-se?
>  Foi apenas um empréstimo!"
>
>                                                  José Saramago



Em geral , após passar algum tempo na ante-sala , tão providencial ao sentir e o conhecer, como aquele período em que o acasalamento mostra os sims e os nãos de cada um , e ao mesmo tempo usufrui-se de uma liberdade sui generis, pois agora a casa é nossa, a vida é nossa , sem mamãe e papai e vamos curtir que a hora também é nossa , vem o desejo de ter filho.
Aqui seguimos a rota usual , sabendo que outras rotas existem e todas abençoadas , onde o primeiro filho chega sem ter esse compasso ou esse consentimento gradual , pois descobre-se que se está grávida e pronto , o filho primeiro e o acasalamento depois.
Há primeiros filhos que são programados , outros não e de uma forma ou de outra segue-se a vida, e daí muitos casais se formam ou não .
As dinâmicas históricas não vem bem ao caso , já que cada situação é singular e levando-se em conta a natureza dos tempos modernos , diríamos que as modalidades de recepção são amplas e variadas , e a idéia de reprodução hoje, não obedece aos padrões regulares estabelecidos e como tudo nos confronta com aberturas que nos obrigam à buscar outros modos de concepção.
O casal chegado à um têrmo relacional ou a um tempo de nova inclusão decide então ter um filho, o primeiro , o que inaugura o núcleo familiar , o herdeiro , aquele que uma vez aqui, instaura o pertencimento num nível diferente , pois por princípio, filho é a própria figuração do para sempre.
É, sem que conscientemente vejamos assim , nossa inserção no grande mistério da vida , nossa "entrance" na ordem de reprodução , que tantas alegrias trarão e sofrimentos também,nossa iniciação nos níveis profundos , o elo inquebrável de vidas que se espelham e que terão que se diferenciar , um certo destino comum que muitos irão bem dizer ou amaldiçoar de acôrdo com seus alcances e limitações.
O casal, oferece então à vida, e não só biologicamente , mas um espaço a ser ocupado por alguém, que uma vez chegado nada mais será o mesmo, uma inclusão de prazo indeterminado.
O útero , este orgão espiritual abençoado ,a casa de todos nós, se prepara então para o grande processo alquímico de transformação , impelido pelo grande desejo da vida em se perpetuar e se aprimorar junto com todos seus seres , abre seus elásticos, se aquece para fornecer o calor tão necessário aos metabolismos incontáveis, que num sistema de trocas e estimulações mútuas consagram o substrato físico da beleza cósmica da Criação .
A matéria sabe de cór suas etapas , do embrião ao recém-nascido , uma bela cadência e encaixes tão impressionantes que não há como não se curvar à inteligência superior e cuidadosa , tão precisa nos detalhes e tão delicada na arte  biológica , que ao assistir à formação dos que chegam , nos regojizamos num tipo de prece profunda e de gratidão , um reconhecimento de nossa sujeição ao Absoluto .
É incrível observar como ao se reproduzir , além de todo espetáculo extraordinário que nenhuma ação humana parece capaz , somos convocados em níveis comoventes a relacionar que a mesma ordem que coordena suas fases e nos oferece o bebê como sua parte mais externa e como um belíssimo presente , é a mesma que nos construiu e nos trouxe, para sermos o que somos hoje.
Amparados pela força magnética do desejo dos pais , amparo amoroso a qualque processo biológico , nutriente fundamental que uma cultura materialista tem dificuldade de perceber,nascemos desde sempre no desejo da mãe , segundo a Psicanálise , desejo propulsor de recepção e de imantação calorosa , matriz de uma recepção que segundo alguns ,irá nos marcar para sempre. 
Há quem afirme que somos uma expressão ao nascimento, ao como fomos concebidos no desejo e celebrados no chegar , o entusiasmo da festa de chegada , o sentir em planos ainda não resolvidos conceitualmente , que somos importantes para alguém , que todo esforço feito para vir, valeu a pena.
Amor , ódio ou indiferença ,e embora não queiramos, é assim, nem todo filho nasce com festa e nem todo filho é fruto de amor . Pertencem à legião de criaturas que acrescidos de outros fatores serão refratários à ordenação social e às políticas de inclusão não poderão ser apenas mandatos de boas intenções.
 O casal então prepara-se para o grande fenômeno , cujo símbolo é a paciência de quem vai aprender a esperar , como diz Osho " a gravidez é o símbolo da paciência" ,e sem dúvida , uma paciência grávida , cheia de alteridade , um rosto imaginado , um encontro sentido energéticamente , mas um corpo por vir , uma forma encarnada que conjugará o sentido do dois no um.
Pai e mãe , uma dupla , uma união cheia de projetos e dúvidas , um aprender juntos , um pouco a cada dia , que começa no nome até devaneios particulares de como será o amanhã, será saudável? bonito? feio? enfim, interrogações ditas e não ditas , mas perfeitamente humanas , nosso posicionamento perante o que não podemos antecipar.
Já muitas coisas costumam acontecer durante essa espera e que funcionam como ajustes para o casal grávido , muda o corpo da mulher , alterações metabólicas podem ser bem sentidas ou não , provocando desejos e vômitos , sensibilidades se afinam ,enfim, um teste que promove exercícios conjugais , e vai revelando os modos de cada um .
O casal se conhece e se desconhece , se reapresentam um ao outro , pois até então o cenário era um , agora mudou, há o terceiro , arquétipo do ciúme , da possessividade , da exclusão e também da entrega , do ir além de si , uma profunda contribuição à ordem humana.
Ao nascer o bebê já encontra seus pais em outro nível , a mãe principalmente , pois após 9 meses muito já se ambientou e muita intimidade foi construída , desde a ultra-sonografia até os chutes e movimentos que emocionam, por se ter a certeza de que há alguém especial ali , tão esperado e desejado .
O casal já não é mais o mesmo , avançou e começam a ter uma noção mais intensa de que se precisam , pois a tarefa assumida é profunda e árdua , prazerosa e desgastante , revezamentos são bem vindos e se sabem perante alguém que veio para ficar e quer viver.
Acho indescritível esse segmento do tempo na vida do casal , muitas coisas que ali acontecem podem se sedimentar e vivificar muito as disposições para o viver juntos, mas podem também mostrar o quão difícil tudo poderá se tornar.
A princípio toda criatura humana é filho da mãe, é ela é que é, toda disponível arranja forças sabe-se lá aonde, em geral para lidar com um filho que pede tradução quase sempre , uma gramática que vai descobrindo aos poucos , uma sinalética a dois , onde o pai fica fora esperando ou para entrar ou pra sair rápido, à inclusão negociada que exaspera as mulheres.
O filho,esse primogênito , o herdeiro que recebe todos os motes e a virgindade dos pais, é o centro , tudo é engraçadinho , ah! as marcas que ficarão como lembranças e possíveis exigências posteriores, um lugar perdido e sempre reinvidicado , sua majestade , o primeiro.
Mas também é verdade que o primeiro é o desbravador , o que encontra aflições e medos a flor da pele , porque só se relaxa depois , em geral,no terceiro. É também chamado ao lugar do  exemplo, quando nascem os outros, e não raramente pode ser convocado a se tornar adulto precoce , o que oferece à infância como dispensa do trabalho dos pais .
Logo após a vinda dos irmãos , é o que será um tanto esquecido , ocupará um lugar do meio- sem –graça , será olhado pelos estudos , pela boa conduta , mas não mais pela graça , patrimônio que será passado ao caçula , aquele que saberá apelar para sua minoridade quando lhe convier.
A essa altura os pais já são completamente outros , felizes ou arrependidos , juntos ou separados, lá estão eles com sua troupe , a tarefa cósmica de educar , a escuta particular de quem é cada um, seu jeito , seu estilo, e o aprender o exercício de amar diferenciando à singularidade, a abertura da generosidade do coração para o que é ímpar em cada um.
Amor investido , nem sempre reconhecido, sombreado pelas dúvidas de quem tem o outro como responsabilidade, questões de dívidas e culpas onipresentes , mas uma convicção especial que com tudo e apesar de tudo , valeu a pena , pois também pode se ver o quanto se amadureceu , e o quanto sem isso,corre-se o risco de algo ficar mutilado na realização.
Lamentamos não ter mais o espírito da comunidade que nos ensinava a festejar coletivamente o nascimento de seus descendentes , pois eram parte do todo , e representavam toda tradição daquela comunidade . Cabia recebê-los e bem , seriam bem vindos para honrar o patrimônio comum e assumirem perante o futuro os valores consagrados daquela sabedoria ancestral.
Alguém muito importante nasceu , e isso importa a todos nós , pois o modo como cada um saiba ou não disso , decide parte de nosso destino comunitário. Se alguém nasce e não recebe importância, sente-se descomprometido e sem laços vinculativos , um fosso no encadeamento das pontes sociais.
Nascer é um ato profundo como morrer, nossa tarefa cósmica de amor, ajudar um ser a se construir, um substrato para lidar com todas as variações da vida , aquele mesmo filho que um dia esteve ali, bem ali dependente e solícito, vai se transformando de forma espetacular , rumo à emancipação , enfrentando o curso de seu destino e se tornando um protagonista da ordem humana , e é justo aí , que celebramos nossos investimentos.
Tudo que se quer é o Bem , mães e pais lutam por isso , que seus filhos devolvam o que receberam, qualificando os investimentos e se tornando um “ Homem de Bem”, uma pessoa digna, cheia de erros e disposta a acertar , alguém que hoje não precisa ser “doutor”, mas que não viva de lesar os outros .
Talvez, devessemos lembrar a muitos, que o que fazem hoje não foi o que aprenderam de seus pais, principalmente enganar o povo em benefício próprio.
PARABÉNS AOS PAIS E MÃES QUE TIVERAM AMOR E CORAGEM PARA COLOCAR FILHOS NESSE MUNDO , AONDE SE DIZ, EM MAIS ALTO TOM FILOSÓFICO, QUE “DEUS ESTÁ MORTO”.





2 comentários:

  1. Nossa Alexandre o que dizer? Só posso dizer que chorei muito!!! E só peço a Deus que conserve minha coragem até o momento tão esperado...rs
    obrigada.
    Fabiola

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  2. Também agradeço profundamente, pois tocou meu coração, pois além de ser a primeira filha estou gestando o desejo do primeiro filho, muito rico de aprendizado.Obrigada Aline Braune

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Há ou não inveja do pênis?