Sempre que penso em política me ocorre uma estranha sensação
, tanto física como mental , um estado difuso de ser um protagonista do que me afeta , ao mesmo tempo , em que me questiono o que isto tem haver comigo?
A cada dia, vejo uma imensa movimentação ocorrendo , muitos
dizeres , muitos pareceres , muitas decisões , muitas promessas , um universo
que percebo próximo , pois me coloca como depositário direto do que se passa (
a discussão sobre energia , por exemplo , se traduz pelo preço da conta a pagar
, do alimento ,a mesma coisa ), ou seja , é um universo não tão paralelo, mas
uma tanto alienígena à maioria de nós.
Este universo com suas leis oficiais e oficiosas nos
confude a tal ponto, que a maioria sequer se interessa por ele ,
mesmo sabendo ou não , que é de lá que parte as grandes decisões sobre a vida
material , que é a vida mais imediata , aquela que fala do pão , o mínimo
necessário para que o homem acredite em Deus , diria São Tomás de Aquino .
Estabelece-se desde sempre a relação do chamado Estado x Sociedade
, relação difícil , complicada , por muitas vezes ininteligível , até mesmo
para os mais experts , aquelas almas que não olham pra outra coisa , que buscam
conter o futuro em seus anseios de poder , seja financeiro ( outro universo
intraduzível ) ou político , uma febre delirante que nenhuma medicação consegue
baixar .
Sempre me pareceu e continua me parecendo , que por ser um
animal político ( Aristóteles ) , e diga-se , pólis ( povo) , a chamada
política seria por princípio, o modo pela qual se buscaria meios para que
determinados fins, pudessem ser alcançados para melhoria geral , já que , não há outro
propósito maior .
Somos obrigados por esta estranha e decisiva imanência, a
convivermos uns com outros e possibilitarmos através do trabalho , este elo
comum a espécie , uma condição que seja a melhor para todos , uma vez que temos
em conta , que nem só do pão viverá o homem .
Observa-se de pronto, que a maioria parece não ter vocação
para lugares de poder público , lideranças em relação quantitativa com o povo
são pouquíssimas e por isso , por falta de engajamento nessas esferas tendem a se repetir , pois uma
vez alcançadas articulações de projetos ou só mesmo de manutenção do status
quo, se eternizam com a espada do poder .
Assistimos decisões sobre nossas vidas diárias, como se
estes centros que decidem pertencessem a outro planeta , não conseguimos ver a
via de acesso onde pudéssemos nos fazer ouvir , e agravado pela percepção da
tendência que todo poder político parece ter , de se afastar para seus palácios
, uma vez conquistado .
As cúpulas alegam privacidade , o que sem dúvida é
necessário , mas não só , pois é fácil ver que medidas antipáticas , mesmo que
necessárias , são cercadas de cerceamentos de retorno , como que não interessa
mais o que se pensa , principalmente o que for contrário , condição básica,
para que aos poucos os autoritarismos passem à História por conta das melhores
intenções .
Ideologias, todas alegam ser o caminho do Homem , ignoram
que tiram a liberdade de poder se ver todos os lados , ou de se escutar o
oposto , e embora considerem na chamada democracia o lugar importante da
oposição , vemos que “ Quem não está conosco , está contra nós”, uma surdez
ditatorial , que só faz confirmar que “ democracia é a escuta da alteridade e da
diferença”.
Sendo um exercício espetacular de condução de destinos
sociais , precisaríamos ter com nossos governantes uma relação de profunda
solidariedade e amor , pois precisamos que acertem , que sejam iluminados em
suas decisões , que nos ajudem a avançar , tanto física como espiritualmente ,
que nos estimule o amor ao próximo , que nos libere de visões provincianas ,
que nos dê à confiança de estarmos não só apontando para o mesmo norte , mas
efetivando-o cada vez melhor em nosso dia-a-dia .
Creonte , o grande Rei de Tebas , afirma que “ só se conhece
um homem quando ele passa pelo poder “ , e aí eis a provação de todos nós ,
pois o poder é um capítulo especial em nossa evolução , não só pela subversão
que faz à ralação do ganha pão ( já que traz todos os fetiches à satisfação
oral sem as interdições da realidade), mas pelos atavismos que suscita como
poder de mando , volta-se ao anacronismo do velho passado com seu estilo
imperial .
Observando-se construções da nobreza , é fácil perceber que
o povo , a plebe com seus tormentos sempre acabam sendo consideradas incômodas
, e logo, levanta-se muros enormes e intransponíveis e bem guardadas pelas suas
guardas , pleonasmo perfeitamente adequado para o caso .
Distâncias se estabelecem hoje em muros mais invisíveis ,
burocracias que desestimulam ações que buscam proximidade , alega-se falta de
tempo para o contato , o mesmo que em épocas de eleições toma outra feição
demagógica , pois precisa-se do voto , instrumento ainda precário por si só, já
que sem a consciência mais esclarecida( a lá Habermas), o voto é sugestão
hipnótica, que os chamados coronéis aprenderam na prática , sem formação
acadêmica nenhuma.
Até hoje nosso ranço materialista é um grave impedimento ,
pois falamos do pão e não da alma , como se fossemos reduzidos a um único
sistema orgânico , o gastro-intestinal , como se nosso esclarecimento para um
melhor viver e deciframento do mundo , fosse secundário .
A alma quer sua luz , que começa justo na educação , uma
condição da sua autonomia como sujeito , talvez temida pelos governos
obscurantistas como diria Henry Toureau , em seu livro clássico “ Desobediência
Civil “, condição de quem se esclarece para melhor poder sonhar , um pouco mais
de alívio em relação à opressão do cotidiano, que só faz se repetir em suas
mazelas .
Os ricos são invejados pois parecem ter uma vida cheia de
variações , de novidades , de paredes finas ou inexistentes , de que podem
fazer o que quiserem ou terem o que quiserem , fantasia de que o dinheiro nos
devolve a relação mágica com o seio materno , embora desenvolva o controle
chamado anancástico , segundo Freud , o poder de reter às fezes .
Dinheiro e sujeira , aqui nesse país conhecemos bem desde
sempre , pois somos filhos de uma Corte falida e fugidia , mais uma imposição
da vida e de Napoleão do que uma escolha propriamente dita , um imaginário de
fim de mundo por falta de opção e de certeza que Napoleão jamais iria se
aventurar a vir aqui pessoalmente , já que até hoje muita gente não sabe onde
fica o Brasil , nem no mapa .
Embora se faça justo dizer também, o quanto de desenvolvimento devemos ao nosso
Regente Imperial e sua troup fugidia , trapalhadas interessantíssimas por um
lado, e feitos que nos tiraram da província e do chamado “ quinto dos infernos”.
Nossos políticos adoram esta nossa condição meio degredada e
ignorante , pois eles mesmos não passariam no teste de qualidade , criaturas
que sequer sabem falar direito , mal informados, falta de cultura geral ,e
resultado de um fisiologismo podre que insistem em manter para não
desaparecerem de vez .
A visão do homem em Paidéia , pedagogia da formação das virtudes ensinada
pelos gregos, passa longe , pois a muito se perdeu o sentido de direção ,
metonímia que nos faz rodar com sensação de que não se sai do lugar , afetação
que atinge o sentido do próprio viver , onde a verdade e a mentira se acolhem
de forma prática de acordo com os interesses imediatos .
Perde-se qualquer critério e estabelece-se uma ideologia
prática , o que interessa é o que tem urgência , desespero que abre brecha para
todas falcatruas , pois argumenta-se que importante é por o asfalto , mesmo que
dure pouco , alto custo pago por imposição da demagogia dos que dizem nos
representar.
O “Homem” a quem se busca perdeu seu endereço num mundo
confuso e arrogante , nos falta um verdadeiro ideal , seja o ideal de Eu de
Freud , a utopia de Tomás More ou o Homem Divino das tradições espirituais , um
Homem que valha realmente a pena , um Homem que apesar das nossas diferenças,
seja reconhecido como melhor , um exemplo da raça como Nietzsche buscou
formular , em seu Zaratrusta .
Melhoremos nós e dispensemos a quem queira nos representar
sem credenciais , uma vez que a política está em nós mas não o exercício
político do poder , façamos esforço para que nossos obscurantismos particulares
não seja nossa escolha ao decidir sobre nossos destinos social ,
principalmente, tendo-se em conta que viver olhando para o que não presta pode
nos contaminar , mas não olhar pode nos alienar .
Trabalhemos pela vida que acreditamos , mesmo que sua raízes
ainda estejam incipientes , mas por que não ? É assim que tudo começa , pois
uma nova disposição mental não pode começar com muitos , o processo é ir se
despertando aos poucos , encarnemos então este novo sopro , pois ninguém é dono
do que a vida nos oferece de melhor e o que de melhor nos identifica , a
liberdade.
Esse artigo seria bem maior , parei para que se adaptasse ao
estilo do blog , que já se queixam o que compreendo , embora tenha assuntos que
pareçam inesgotáveis . Agradeço a paciência e o tempo que me dedicam . VALEU.
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