13.3.13

0 ANSCHAUUNGSGABE E O EINBILDUNGSKRAFT ... O QUE É ISSO ?


 

Acho o alemão um dos idiomas mais sábios pela riqueza metafórica que contém , embora confesse que não sei nada do mesmo . Alguns estudos em Psicanálise e com ajuda de amigos me deram “an passant” a idéia dessa riqueza, já que muitos conceitos Freudianos ao serem traduzidos , se deformavam como acontece com traduções apressadas .

Mas essas duas palavras são incríveis e não há correspondente em português , ou melhor não que eu saiba , já que Anschauungsgabe significa –“ o dom de olhar mais além “ e Einbildungskraft- “o poder de construir sobre” .

Pensar nisso me levou a relação do ver com a linguagem ,e eu na falta do que fazer resolvi deixar a imaginação me conduzir , tendo em conta que de pronto logo me ocorreu , os níveis da linguagem , a saber ; o literal, o metonímico e o metafórico , três tempos lógicos parodiando Lacan .

A literalidade, diria, que é o modo concreto de apreensão , um tipo quase sensorial de ser , onde o toque é decisivo como inferência da constatação , ou seja , tudo só é se for tocado pelos sentidos , que diga-se , são enganadores .Do ponto de vista do conhecimento é um nível menos abstrato e muito passível de acomodações , pois mesmo usando os sentidos , perde em reflexão crítica .

É um tipo duro , algo como pom... pom , queijo... queijo , nada portanto de, é pau é pedra , a literalidade recusa isso , é mesa é mesa e pronto , fica o inconcebível do avesso , a maravilha de Lewis Carol com Alice , sem variações de forma ou de tamanho, menos ainda pensar pelo avesso .

Nesse nível, a loucura não é de maneira alguma uma dimensão do viver que permite o ultraje do convencionalismo chapado dos registros conceituais , é doença mental e pronto , sem distinção , pondo no mesmo saco gênios e doentes neurologicamente comprometidos , como se faltasse um refinamento ou mesmo cartografia distintiva .

O simbólico aqui é um adereço a serviço das certezas , pois raciocina-se o mundo pela busca ávida de conclusões , campo de disputas e violências a toda prova, já que não se suporta duas verdades simultâneas , tipo, ou é ou não é , sem outros espaços combinatórios e alternativos.

A militância aqui ou é fruto da ignorância ou da arrogância , já que os modos dialógicos supõem não só alternâncias entre as polaridades , bem como , a flexibilidade que isso requer , condição primordial para que haja brechas ou pausas de onde o inusitado possa comparecer, e viabilizar algo não previamente pensado .

Nesse caso, é possível pensar que a literalidade é extremamente sonora e adora o barulho das assertivas , o que em alguns casos é oportuno , mas não como palavra de ordem , onde quem fala é sempre Senhor e o outro Escravo da obediência .

Vê-se aqui  que o Anschauungsgabe , “o dom de olhar mais adiante” fica comprometido , pois a tendência é de se olhar sempre para o mesmo , conservadorismo , em geral, autoritário e pouco afeito à mudanças , pois olhar adiante impõe certo desprendimento necessário à levitação da mente .

A mente no que flutua um pouco que seja , ganha altura , passo imprescindível para ampliação dos horizontes e consequentemente da ressignificação da mesmice estabelecida como lugar comum . Isso quer dizer que ao alçar um pouco de vôo  , tem-se a chance de romper ou de reformulações importantes , principalmente , onde o viver já vinha sendo sacrificado pelo recalque.

Algo como “ não se pode ser outro se o mesmo não deixa “, o que implica em se refazer o nível de controle que se quer ter , pois a entrega resultante desse processo , já é fruto do reconhecimento de que a altura pode mais por oferecer mais.

Sócrates dizia que no campo do Amor só se larga quando se visualiza algo melhor , veja em “ O Banquete “, e podemos aplicar aqui o valor desse ensinamento , pois o vôo engendra à brisa que refresca à capacidade de sonhar .

E o sonho é um antídoto poderoso em relação a literalidade , já que refunda o simbólico de forma mais geométrica , menos aritmética e linear como propõe a literalidade .Trata-se de recuperar uma dimensão fundamental para o despertar humano , o exercício de ver além , matéria prima da esperança e de prospecção para o futuro , lugar onde nossas utopias nos esperam ansiosamente .

Já o Einbildunlskraft , “ o poder de construir sobre “ nesse nível sofre muito da falta de desprendimento , já que a ênfase é na segurança , modo como a vida é primariamente credenciada , já que não pode haver descontinuidade em relação ao próximo passo , ratificação da própria concepção da vida como sequência única.

A contrapartida disso é o medo, já que a relação com o incognoscível é de rechaço , ou seja , não se quer saber do que não se controla ou não se submete . A relação do sujeito aqui é de Escravo já que o controle é o Senhor , uma subjugação de difícil reversão na neurose obsessiva, o esvaziamento constante do que não se deixa pegar , sofrimento que gera superstições e rituais pegajosos , fetiche contra desgraça do imprevisível.

Mas também é verdade que a vida sempre se constrói,  e aqui não seria diferente , embora a construção literal seja sempre de aderência , o que torna os scripts rígidos com pouca mobilidade , paredes muito grossas com pretensões definitivas .Os moldes uma vez estabelecidos querem se impor com exclusividade , o que a partir de certo ponto o que era bom fica sufocante.

Sempre é importante considerar que a mente , embora um lugar muito privilegiado da alma , também se submete ao conjunto de forças que regem a vida e cujo fechamento é tolerado de forma provisória , já que a neurose é justo aonde o relativismo toma o caráter do absoluto .

O que se constrói precisa levar isso em conta , ou seja, o modo como tudo muda ou pode mudar , já que o tempo posterior , o que vem depois precisa ter seu lugar , nem que seja como um lugar vazio , pois é esta fenda que permite o elo com o devir , o que ainda vai chegar .

Negar isso ou fazer de conta que tudo já está, é forçar uma completude impostora , em geral, mantida como norma ou regra inquestionável , configuração que aos poucos vai envelhecendo por falta de renovação .

O “poder construir sobre” e o olhar adiante” mantém uma relação íntima e de interdependência , pois dependendo do como seja a concepção da obra , seu terreno e sua arquitetura , pode-se ter mais ou menos facilidade de articulação com o horizonte , mas principalmente o fluir do devir , o eterno vigor de qualquer construção humana .

Sem isso ficamos presos e estanques , nossa ousadia passa a ser nossa própria paranóia , isto é, passamos a ter medo de qualquer idéia de vanguarda que nos obrigue a ir pra linha de frente , passamos a ser o segundo ou terceiro por recusa de  ser o primeiro , na vã esperança de que alguém o faça por nós.

Olhar adiante é ir pra frente , um olhar que permite o depois sem medo , uma intimidade não íntima com o desconhecido , uma reverência ao espaço aberto , a tudo que nos traz o gosto do amanhã sem sacrifícios ao dia de hoje .

CONTINUAREMOS COM O 2º NÍVEL  - O METONÍMICO NO PRÓXIMO ARTIGO .

Metonímia ou transnominação é uma figura de linguagem que consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade de associação entre eles. Por exemplo, "Palácio do Planalto" é usado como um metônimo (uma instância de metonímia) para representar a presidência do Brasil, por ser localizado lá o gabinete presidencial.

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