29.12.11

LAMENTOS ESPIRITUAIS



Recentemente uma pessoa de minha família , após 2 anos de muito sofrimento em função de um câncer e outras infecções , e já traqueostomizada , falando com enorme dificuldade e bem baixinho, disse a sua filha, que estava morrendo.

Minha sobrinha me ligou assustada , pois era primeira vez, em todo este tempo, que sua mãe dizia tal coisa. Fomos vê-la já com certa impressão de despedida, e com certo sentimento opressivo no peito,e enquanto dirigia pensava em como era a vida , principalmente no que tange a este momento terminal , onde reis e rainhas , ricos e pobres, bacanas e plebeus , enfim, todos um dia hão de estar .

Minha cunhada sempre foi animada , bem disposta e certo dia descobriu um câncer de mama , que após tratado , foi dado como “zerado”, mas sobre controle periódico. Tempos depois , viria de forma breve e rápida a morte de meu irmão, mas ela resistia bravamente.

Quando chegamos , o cenário era o mesmo que antes tinha visto , ou seja, ela deitada com dois botijões de oxigênio ao lado , com a sonda enfiada goela abaixo , olhos abertos e um emudecimento imposto pelo quadro clínico, já que parecia não faltar desejo de falar.

Seu balbucear era intraduzível , ao que minha sobrinha , fiel intérprete, nos socorria da angústia de ouvir e não saber o que , uma estranha conversa sem reciprocidades.

Imaginei o quão desesperador seria falar e não ser ouvido ou entendido, sem ser mudo, já que a cadeia de pensamentos devia ser ampla , indagações onipresentes, e principalmente, a consciência de uma luta sem prognóstico , a não ser a oferecida pelo desejo de viver e melhorar.

O corpo já bastante desfigurado pelo sofrimento sequencial , sem tréguas, e principalmente , pela violência compreensível de se ver fora de casa , meses a fio, e que em retornos à mesma , na promessa de poder ficar durante bom tempo, era quebrada por alguma inter-corrência clínica, e logo, de volta ao hospital.

Sempre fico pensando que os nervos são a própria cabeça de cada um de nós , que nosso sistema nervoso é a continuidade das imagens que projetamos a cada momento , mas principalmente, as de forte impressão, ou seja, aquelas em nosso destino parece estar em jogo e que nos damos conta de que já não temos o controle do que pode nos acontecer.

Passar a noite em um hospital numa expectativa sabe-se do que, um lugar estranho que só nos faz lembrar de nosso quarto, de nossa cama , enfim, do conforto habitual do dormir , mas prioritariamente do conforto de nossa saúde, é a princípio assustador.

Há um certa fantasia de interligação do hospital com o cemitério, que obviamente carece de lógica, embora nem sempre. Abre-se uma etapa de dor e sofrimento que não oferece garantias de término , embora dependendo do diagnóstico nos sentimos jogados ou num alívio cheio de “ Graças a Deus” , ou num sentimento indescritível , ou um presságio, de algo profundo e sinistro que se aproxima para ficar.

 A família , o companheiro ou companheira também abrem uma peregrinação pela dor , um conjunto afetado pelo destino e que lutam para que a vida se preserve e que volte como era antes.

Mas em muitos casos não é assim . Nunca mais será como antes , um luto do que já não pode ser , um adeus dito à força, sem que a boca se abra. Uma névoa baixa, sem que a luz permita ver, uma comoção de fé , que de súbito descobrimos que não temos, um grande desamparo, onde a vida se esvai, para muito além dos limites de nosso corpo .

Minha cunhada me parecia nesse momento e nesse lugar , um lugar de quase nenhuma palavra , já que parecemos negar a morte até o fim, como se nos recusássemos a admiti-la e falar dela é quase autorizá-la , o que nos tornaria assassinos por falar do que não deve.

Me lembro quando perguntei a meu pai se ele tinha medo de morrer , causei um frenesi em família , porque isso não é pergunta que se faça ,ou seja, há o medo de que a pergunte mate.

Mas tomar consciência de que estamos no fim e que vamos partir e ter que deixar tudo e todos , completamente pelados , tal como chegamos , é duro demais.

Nós sem a vida e a vida sem nós , algo inconcebível , em planos comuns e ordinários como o que vivemos , sabemos que devemos desapegar e só de pensar nisso começamos a fazer questão de tudo, uma estranha fantasia que se nos agarrarmos direitinho a morte não nos verá.

Mas parece haver um momento que algo se afigura, e mesmo sem formato definido , parece ir chegando aos poucos e nos fazendo sentir longe , um longe só , um retorno ou um mergulho no que parece estar além , uma além que vai chegando e ficando pertinho , um longe –perto , ou um perto que vai nos levando pra longe.

Se largar, dizem os Mestres é o melhor , uma experiência de total entrega e única , como nunca fizemos em vida, um tipo de libertação consciente e decisiva . Mas quem de nós pensa em se largar numa hora dessa?

Quem pensa em deixar filhos , marido, mulher, carro ,casa , etc ? é uma falência múltipla do apêgo, um largar em grande escala , um desinvestimento súbito em tudo que passamos a vida investindo , um suicídio econômico , uma exigência apavorante ao nosso pobre ego sem alma.

Minha cunhada suspirou que estava morrendo não pelos remédios , segundo pergunta sugerida, mas disse em voz baixinha “ É pela minha vida mesmo que estou morrendo”.

Essa frase me fez viajar para profundezas , pois tenho relatos dos que antes de morrerem pareceram ver suas vidas de forma global , um tipo de síntese espiritual do que valeu ou não valeu a pena espiritualmente , um conceito do Cristianismo primitivo chamado”metanóia”, um certo repassar da vida a luz de si mesmo .

Sempre me causou impressão de que nessa hora , nesse repasse nos déssemos conta do que poderia ter sido diferente, da dor que deixamos nos outros, das mentiras com que nos descomprometemos , do amor que calamos e das críticas que exaltamos , talvez a consciência tardia de nossas deformações negadas e orgulhosamente blindadas.

Mas como tudo isso é profundo , como sabemos disso e nos esquecemos sempre , porque o orgulho é o nosso rei? Talvez a morte saiba disso e suas figurações seja de acordo com isso também , pois sua proximidade nos faz sentir o que vai ser arrancado e nos exacerba o medo do que de nós será descoberto , um sentido radical de transparência , onde todos nosso erros inconfessados nos esperasse logo na primeira esquina.

E o que teremos a nosso favor? Com o que nos defenderemos se sequer conhecemos quem nos acusa? O tribunal teológico parece ingênuo perante nossas obstinações explicativas , pois na medida em que nos vemos perante a outra face da vida, nossa cidadania se esvaísse, e já não conhecessemos à que legislação estamos sujeitos.

Nosso fim parece tão triste, que sequer conseguimos pensar na possibilidade de estarmos recomeçando ,sem nenhuma religiosidade no profundo e cultivando a superfície , temos a fantasia de sermos tragados por um buraco sem fim, uma eterna queda sem descanso , o pessimismo ,o pavor dos que vivem a Deus sem piedade, dos que fizeram do Espírito um descaso no seu viver cotidiano , o corpo como templo da eternidade.

Se há uma vida além do cemitério, como todas as culturas mais espiritualizadas afirmam, deveríamos estudá-la com afinco, e tirar proveito para nossa forma de viver, e não renegá-la ao espaço menor do imaginário intelectual. Não ficaremos mais vivos negando a morte , pelo contrário , somos tomados pelo medo de viver e de perder , o que nos leva a uma contabilidade mesquinha dos apêgos desnecessários , que a tesoura da morte não dispensará.

Minha cunhada nunca me pareceu tão profunda, e se mantém viva enquanto escrevo o artigo, mas após este encontro, me ficou como uma lição que agradeço e compartilho .   
Agradeço o retorno










18.12.11

A BEIRA DO CAIS


A imagem do cais enquanto lugar do que vem,do que vai , esse fluxo e refluxo de expectativas e esperanças,pode ser tomada enquanto um limiar , um limite , que por um lado nos dá a imensidão e por outro a cidade .

Ao olhar para essa imensidão, nos vem tudo que não se nomeia , um para-além das representações , um silêncio vibracional , uma dimensão tão extraordinária , que ao mesmo tempo fascinante, também temerosa.

Uma filiação metafísica renegada , um esquecimento do tempo de jornada , a figuração do peregrino que vem da noite dos tempos , que anda desde longe e que um dia espera chegar, os diferentes matizes de todas as dores , e a liberdade não confinada do mistério misterioso.

Eis o que diz " Fernando Pessoa: Quando chego no meu limiar não sei se sou louco ou um mistério misterioso".

Esse limiar apontado pelo poeta é o cais entre o aqui e o lá , entre o que parece não ter limite e tudo que para viver se reduz ou se ordena , como se fosse um manto que protege, e ao mesmo tempo confina .

Ao vigor do olhar para o horizonte, nos vem o estranho endêreço que não podemos contar a ninguém , pois também não sabemos onde fica , o sentimento de pertencer a uma imensidão e ao mesmo tempo navegarmos nos limites das margens estabelecidas , uma vida que sonha com outra , mas naõ consegue se despir de sua própria imantação.

Ao começar de novo, o início pelo nascer, já sofremos a ruptura , um corte , cuja dor trazemos em si , e embora o romantismo necessário da infância inocente , temos a amargura do que deixamos para recomeçar , um ciclo que parece marcar o tempo pelo que confina e pelo que nos solta.

A cidade enquanto metáfora, é o lugar em que tudo se vincula , tudo se apega , nada do que quer ser deixado , onde tudo faz questão de suas próprias razões , é onde a vida reproduz seus atavismos , enquanto retorno das antigas pendências do desejo , os apêlos aos velhos objetos de sempre , a morte como conclusão da mesmice.

Se, como diz a Psicanálise, o que queremos é o impossível e temos que nos assujeitar ao possível, então nessa dobra do apêlo que é obrigado a voltar pelo que não há , temos aí o que o mundo nos oferece como compensação , ou seja, seus fetiches , suas máscaras de amor , seus consolos de consumo , seus objetos possíveis , modulações do impossível .

Nosso sonho nessa instância é de ter o que nos devem , à recusa da Lei que não permite uma plena saciação , o movimento pelo desejo insaciável no deslize de seu objeto que não há , o objeto "a" de Lacan.

Mas o que aprendemos nessa Cosmovisão do herói condenado à imanência do que há , é que não tem outro jeito , ou seja , estamos fudidos e mal pagos , não há ponte para o além , apenas acertos em menor escala com o que há por aí.

Sonhamos com o maior para nos consolar com o menor , a vã esperança de que um dia , quem sabe ..... algo aconteça e ....... nada , absolutamente nada , que não resulte em areia quando o vento começe a soprar.

Essa é uma visão que inverte a ascese e negativiza o início , pois torna a vida um campo cheio de ilusões, onde as afirmativas só legitimam o estatuto de prisioneiro , ou seja, estamos numa prisão, que ninguém sabe onde está a chave pra sair.

Eis o que diz o rei Lear na tragédia de Shakespeare,"Quando nascemos, choramos por estarmos chegando /A este grande palco de bufões".

Choro de quem afirma o direito a vir e a viver, e de quem retoma a caminhada , vindo de outras pairagens , onde o tempo não confina e o sonho é o que aprimora o possível .

Mas convém lembrar, no entanto, que segundo Platão sofremos de reminiscências , lugares onde já estivemos e cujas lembranças nos acompanham , o mundo de onde viemos e pra onde voltaremos , a pátria perene segundo seus ensinos.

A esta altura observamos que estamos entre lá e cá , como a discutir nossa origem pra saber nosso destino , pois a cidade nos oferece o consolo do berço e nos entrega aos braços da família , ou seja , nos interpreta o início pela raiz de nossa biologia e nos assegura à familiaridade .

Por outro lado a vida não nos poupa de questões maiores e difíceis pelo fato de nos protegermos em família , afinal , Buda é o que rompe , o que não se confina aos limites do familiar , pois sabe que a vida é outra coisa e família pode enganar e muito.

Eis o que pergunta o escritor japonês Hiroyuki Itsuki , em seu livro Tariki "O que vem depois? O que se segue a essa percepção? Nascemos em lágrimas, somos oprimidos pelos grilhões do parto , da velhice , da doença e da morte ; existe algum meio para que a pessoa , como indivíduo , leve uma vida que seja altamente gratificante e cheia de esperança e vitalidade , apesar dessa carga?"

Hiroyuki propõe a negativa radical como ponto de partida e diz " Aceitemos essa visão da existência. E então perguntemos: Embora nasçamos chorando, não há um meio de morrermos sorrindo? Não é esse o verdadeiro fim e objetivo de todas as vidas?

Importante dizer, que partindo do Budismo , Hiroyuki sabe da vida como" Maia a grande ilusão", nada do que apetece aos sentidos interessa , não se deve perder o desprendimento, a iluminação contra as pregas da cidade .

Mas nós temos a cidade na conta da própria vida , principalmente quando num erro histórico caríssimo , deixamos a "transcendência" como filha bastarda das religiões , pois aonde o apêgo é maior convém lembrar mais.

Se, ao olharmos na beira do cais para o horizonte, sentimos uma presença indiscriminada de tudo, e fechamos os olhos como uma benção de agradecimento , é porque este lá é também aqui , ou seja, uma disponibilidade manifesta e afim , pois nos permite sentir à inclusão , um para além de mim , que age como uma voz que chama e que é capaz de comover profundamente.

Se queremos o que não há , talvez seja importante refletir o que o desejo pode ver , pois mesmo sendo seu objeto fugaz e o que não permite totalidade, este são os olhos do desejo , aquele que quer sempre e mais.

Mas e se não quisermos? ou pra ficar mais acessível :E se não quisermos tanto? algo se relativiza? Uma vida considerada modesta é também uma inserção no campo do desejo , pois não se trata só do dinheiro como poder de aquisição , mas de um modo de viver que pode ter deste campo uma outra interpretação .

A questão do desejo é também o seu imediatismo , seu mais gozar incessante e insaciável , que além de mover a vida nas instâncias que lha são afins , move o capital e por aí o mundo.

Mas se viemos de outro mundo mais desprendido, e do qual temos cidadania , talvez paguemos o preço de recalcá-lo , por conta de um grande engôdo que sacrifica nossa transcendência , nossa capacidade de não querer por não valer a pena , isto é , se sofremos a sindrome do imediatismo , porque deixar pra depois?

Entendemos que o imediato é que é , nosso descolamento é visto como perda de oportunidade , toda raiz do que iremos chorar depois no arrependimento , pois não se trata do gozo e pronto , mas de ficarmos presos, mesmo que pelo prazer, nos lugares onde iremos sofrer da força de retornar.

E retornar a cada vez, nos faz ter a estranha impressão de que já estivemos por aqui, e mais uma vez aqui estamos , como a nos haver com as pendências onde o desejo nos faz voltar e tentar fazer diferente , um tema caro a filosofia contemporânea , o repetir diferenciando .

A questão é que pra nós ocidentais, o Paraíso ficou monótono e o pecado muito mais dinâmico e interessante , pois há fogo , a quentura própria à tentação.

Obviamente , que essa leitura do Paraíso é equívoca , pois não havia ali o Outro , o terceiro, que só pode se por como serpente , pois o humano não pode antecipar , somos o três , temos ainda muita possessividade por se resolver e adoramos nossa incompletude , já que dessa forma nos apegamos e nomeamos nosso patrimônio.

Paraíso é pra quem já pode largar , pois não precisa e não quer mais , a quebra dos grilhões do que o desejo promete e não cumpre , o exílio do não querer , a maldição dos que podem viver e dispensar , pois sabem que para morrer sorrindo é preciso deixar tudo aonde está e morrer como aquele que viveu com a pura e simples gratidão dos que por terem tudo , não precisam de nada.

Amigos , devolvam por favor, às vezes os temas parecem um pouco mais complicados e eu temo não conseguir simplificá-los . Agradeço o carinho e o saco de ler . Valeu

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

4.12.11

A ALMA DO MUNDO






O mundo tem alma?

Tudo tem alma , pois a alma é o que faz viver , vivemos num "mundo almado" diz James Hillman, o grande junguiano , embora, se o termo alma pareça ter uma conotação sutil , não é fácil em tempos espertos como o nosso, situá-la.

No mundo cabe tudo e momentos históricos existem em que a visada de seu compromisso é turvo e aparentemente inexistente . É como se não houvesse o aonde chegar , pois não há indicação de sentido que não possa ser alterado , não há razão moral, espiritual , ou qualquer outra, que resista a uma boa sofística , uma boa retórica que não consiga desfazer alguma pretensão mais permanente.

O vigor imediatista cria seus lugares próprios de manifestação , seu lócus 'voyer ', suas figurações de mercado onde os objetos imediatos ou perenes , podem ser cotados como mercadorias de transações , ou seja , a vida é ali e pronto .

Estanca-se o fluxo por meros interesses e subtrai-se a idéia de que muito do que aparentemente some, pode permanecer em outros lugares que discordam do modo como se negocia.

Podemos negociar valores capitais para uma civilidade , como podemos regar violências que supostamente queremos combater , podemos fingir não ver para não perder, mas não temos como destituir às assombrações que aparecem mesmo de olhos fechados.

Há uma estranha suposição de que o mundo é exterior , um lugar de ações e reações onde podemos nos isentar , ou se descomprometer , a figuração de que o eu é um lacre , um lugar próprio e impenetrável , que participa do mundo por adesão de interesse .

Esse modo de pensar totalmente extemporâneo a culturas mais espiritualizadas , é o que  nos possibilita , por conta do poder , a mentir e se inocentar com a mesma facilidade , ser bandido e mocinho , ser assassino e herói , num tipo de mistura que busca confundir o olhar, por falta de um critério que reconheça que o alto e o baixo , além de serem diferentes , pertencem à ordens diferentes.

Nossa timidez liberal , se por um lado propõe um tipo de soltura que rompe com o tradicional , por outro, deixa vago uma série de espaços que vão sendo costurados com oportunismos de ocasião .

Chega a ser impressionante a cara de pau de determinados políticos, por exemplo, que mesmo incriminados , se julgam além do bem e do mal, como se o patrimônio lapidado fosse uma questão particular .

Esses personagens anômalos são criações que resultam de nossa relação com o mundo , quando este se torna depositário de nossas indiferenças ou de nossas perversões particulares em âmbito restrito , uma retórica cúmplice , um espelho de consentimentos que cada vez mais, mostra o que tem de traiçoeiro .

É incrível , como nos julgamos no direito de ocupar a cadeira dos que foram lesados, sem nos incluirmos na dos que lesam , talvez porque sem estes critérios , julgamos os crimes pelos seus efeitos espetaculares ou pela gravidade de sua extensão , como se pequenos crimes pudessem passar impunes pela falta de tamanho.

A alma do mundo somos nós , pois na rede invisível das conexões, tudo está em tudo , nada está fora , a não ser pelo desejo de excluir , o que também nos faz pagar um preço alto , apesar da ignorância que rege o imediatismo de nossa contabilidade social.

Ao vibrar em nós, tem a pretensão de nos dizer o que ninguém quer escutar , ou seja , nosso pertencimento à uma alteridade, que quanto mais se adia mais sofrimento provoca , pois o se há o Um , ele não está na subjetividade repetitiva com ares monótonos de cada um , e sim no entre , nos entremeios , no ter que se dizer e pedir para ser escutado.

Este entrelaçamento é a teia cujos fios nos unem, e nos tornam sensíveis uns aos outros , que recorta o humano enquanto um campo diferenciado e com características próprias , uma dimensão a ser frequentada de forma consciente , pois aí , cada um, além de reconhecer seu pertencimento , se torna também um outro, enquanto um espectro amplo das opções humanas.

Cada um que se consagra é um outro a consagrar , uma via de sedução e de chamada , ou seja , uma chama que queima , que destrói , que mata o que não deixa viver , o verdadeiro reino dos vivos , tão almejado e temido ao mesmo tempo.

"Deixemos os mortos"dizia Jesus , esses já tem endereço , pois pensam que chegaram , vamos nós os vivos que ainda não sabemos pra onde ir , e que temos então que viver a cada dia , como se fosse o último , sem promessas e nem dívidas , no afã das suposições que antecipam o que não conseguem pegar .

O mundo ao renegar sua alma , perde sua interpretação maior, seu horizonte para ver mais longe , mas ao mesmo tempo não enxerga o perto , a proximidade para poder ver o que nos falta no outro , um interjogo de ofertas e recepções que ao serem lapidados tornam a linguagem um dialeto universal , uma língua cheia de vocabulários intraduzíveis sem apreço , uma língua que exige o coração como aquele que ouve e se surprende com o que fala .

Uma escuta toda , cheia de ruídos de insetos e amores prometidos , cheia de alegrias e dores  recheadas de penetrações , o mundo vive em mim, se refugia em mim , eu sou o mundo , no seu baixo , no seu ventre que me reproduz , no seu alto que me reluz .

Sujo o mundo da mesma forma como corro para limpá-lo , é minha casa e meu exílio , minha pátria cheia de nação e minha mente sem noção , o lugar onde me amparo no corrimão e choro de doer, o que trago no coração . Ah ! Viva o mundo , que mesmo não me chamando Raimundo é aonde estou e me apresento , ou para ser jumento , ou um assento onde me sento , para ver quais palavras precisam de acento , um doce cordel desrrimado pelo vento.

Minhas homenagens a Manoel de Barros , meu mestre da simplicidade nativa, para quem as palavras foram feitas para coisar.
























13.11.11


VAREJOS DA ALEGRIA

Em tempos que a felicidade anda confusa de se ver, e mais ainda de se definir , optei por olhar a vida , para ver o que me diz.
Pós -modernidade , abolição dos sistemas, de doutrinas etc e espírito de liberdade , o tudo pode ser, mas nada é , enfim, um momento único , onde a idéia de "fundamentos" ou mesmo "vontade de potência" parece não passar de um bom yogoberry a escolher o sabor e decidir firmemente sobre qual a calda mais adequada à ocasião.
É melhor não insistir , acho que vai trazer tanta amargura , que comecei a pensar no varejo como alternativa, esse ato que se consome , esse minuto de sabor com apetite , mas um agudo diferencial , esse truque supérfluo , mas de grande valia para auto-estima.
Assim vejo, por exemplo, o valor de um bom churrasco com amigos , mesmo que na esquina, um bom papo regado à chopp , uma boa peça de teatro, um bom filme, uma boa soneca , em geral, depois do rango, um bom jogo de futebol para quem gosta , uma festa animada , uma conversa cheia de graça , um bom degustar de vinho ,quantos pontos que animam a vida e que festejam o brilho e o prazer de se viver.
Uma resistência férrea ao desencanto , ao pessimismo das amarguras alá Cioran , uma constante excessão às perpectivas sociológicas desanimadoras , um borbulhar constante contra o marasmo sombrio da rotina escrava , um ato guerrilheiro contra o imposição injusta das desigualdades sociais.
Se por um lado a felicidade parece englobar o muita coisa de uma vez , esses varejos não , porque não têm essa pretensão toda , não parecem querer erradicar nada e nem subverter algo, apenas garantir o direito à uma boa risada, à uma animação imprescindível para repaginação do cotidiano,  um animo necessário à alma da vida .
Obviamente, que esse homem que se alegra assim ,não frequenta nenhum compêndio filosófico, e esses momentos parecem tão inúteis para qualquer pretensão , que passam por conta de coisa nenhuma , apenas um des-sufoco vulgar , não-letrado e totalmente despretensioso .
Mas isso não me parece exatamente assim.
Digo porque embora , possamos não tirar daí nenhum substrato maior , esses momentos situados são tão prazerosos e agradáveis , que ficam como pano de fundo, a espera de oportunidade . Lacan dizia que o neurótico vive em função do fim de semana , algo que me parece já vem sendo subvertido há muito tempo.
A boa piada bem colocada , um humor que muda o rumo da prosa , uma tirada sutil que desconcerta, o almoço bem digerido e saboreado calmamente , o sorriso espontâneo ,o chopp ao cair da tarde , a celebração da vida sem pretensões maiores , como aquele bom café bem pedido, ou depois do almoço como arremate antes da volta ao trabalho, ou degustado com memórias deliciosas, trazida pelo cheiro inconfundível de família, que o lanche da tarde mediunicamente sempre faz lembrar.
Fico pensando que a memória reserva um lugar especial para essas inscrições , pois são de fácil evocações , voltam trazendo sentimentos do que valeu a pena , das delícias pré-conceituais , pois figuram mais como viagem dos sentidos , o que se sente , unidades de prazeres íntimos e compartilhados , um gozo por estar ali , uma sempre comunhão que naquele instante , nos satisfaz, pois absolvemos a vida e ela não nos deve nada.
Talvez por isso gostamos tanto do recreio , que bela hora de liberdade , uma defesa legal contra seriedade chata de sala de aula, um encontro de movimentos alegres e fugazes , uma gritaria como resposta ao silêncio imposto , um gosto especial de ter amigos .
Depois o recreio vira arranjo aonde for possível , no bar , na rua , no banheiro , em casa , enfim , uma soltura sem habeas-corpus , uma meninice imperdível que nos indica o quanto ser adultos doutrinados é uma violência tida como necessária .

"O mundo está assim porque foi feito por homens sérios e todo homem sério é um perigo" diz Osho , do alto de sua bela sabedoria espiritual , um mestre que propõe " viver é sorrir",e tem a dança como terapêutica , um êxtase contra repressões desnecessárias que só servem para nos manter infelizes , afirma.
"A felicidade derruba governos " afirmo eu , na linha rebelde de Osho , para quem governos e governantes não se interessam pelo povo feliz , porque se tornariam desnecessários ou obsoletos . De certa forma há um ranço predominante onde um pouco mais de alegria , já pode se tornar uma ameaça , pois a ordem vigente foi feita para regular valores e condutas que não atrapalhem muito e evitem o novo , esse sim o desejo prometido, e renegado aos confins de uma utopia impensável.

Estratégia perversa de quem não quer sair do lugar , unicamente porque não convém , reprime-se o novo como perigo , nunca se sabe aonde vai dar , obriga-se o de sempre , que embora cansado e monótono não incomoda enquanto subversão , apenas como insatisfação , que pode deslocar-se como sintoma.
Talvez a situação árabe na África do norte , estejam mostrando que se suporta durante um tempo, que até pode ser longo , principalmente quando do outro lado alguém tem um exército a disposição, mas a vida sem alegria e sem mudança sugere a pergunta , pra que então?

Se tudo fica sério, engendra razões intocáveis e autoritárias , que buscam se impor como ato de força e violência , uma insanidade muito diferente da que se vê nos hospitais psiquiátricos, e porque têm poder, recusam o diagnóstico e as medicações.
 Nossa querida rua da alfândega , lembra um amigo, é o locus da revolução mundial , onde árabes e israelenses comem quibes e esfihas juntos , dividem o mesmo espaço e não soltam bombas ,há anos.
É incrível também, como a alegria descontrai a vida , evita o visgo pegajoso das conversas cheias de venenos , cujos tentáculos buscam cumplicidades nas mediocridades implícitas ou explícitas das mentes opacas , desfaz o tom severo das profecias sombrias , aproveita o cenário para uma conexão inusitada , enfim , um perigo para os pessimistas doutrinários e para estagnação sugestiva e hipnótica dos que querem pregar verdades.

Esse garimpo no cotidiano é tão ou mais interessante , quando vemos que embora determinadas ligações se façam por interesses ou obrigações , as que são mais procuradas são aquelas onde se pode rir . Passada a reunião de trabalho ou outra qualquer , forma-se o cenário onde abre-se conversas que buscam o bom humor , um prazer de conexões sinápticas que não viam a hora da reunião acabar .

Quando algum tempo atrás votou-se no macaco Tião para governador , achou-se isso uma alienação política e rapidamente analistas chatos entraram em ação , não viram aí , que o surreal é a resposta do humor ao que perdeu a graça , o que só aborrece e não faz mais rir, a não ser de deboche.
De certa forma tudo tende a chatice, depois dos 5 minutos usuais, se não houver riso .Sem riso o relógio é um compasso monótono , as cartilhas que ensinam a vida se tornam obsoletas, a vida perde o tônus e sua coloração se embota , os dentes ficam cariados por falta de serotonina, e o amor sem o riso é um gesto brusco .
Sorrisão pra todos
















30.10.11

A VIDA TRIVIAL



Estimulado por uma chamada de Bert Hellinger em seu livro " A fonte não precisa perguntar pelo caminho" sobre a vida trivial , decidi escrever algo a respeito .

Um tanto surpreendido pelo tema e principalmente pela afirmação de que só é possível ser feliz aqui , na vida trivial, me pus a meditar, e de pronto , meus apelos transcendentais se arrepiaram em protesto .

Descobri , por exemplo, que desde sempre me referi a outro lugar , um lugar inominável , um endereço querido e nada específico , um tipo de cenário sem objetos, uma senha de passagem , embora sem poder dizer pra onde.

Lembro que em muitas ocasiões de estreitamento no convívio , aquelas que tudo parece bárbaro e caótico , onde o ogro interno comparece e o anjo desaparece , em que a vontade assassina se revela , mostrando a precariedade das premissas civilizadas , meu consolo estava justo no apelo para aquele lugar a que me referi .

Mas examinando mais de perto , na força da proposição de Hellinger , vejo também que era um lugar só, ou seja, um lugar de mim, reflexo da minha capacidade fantasiosa de eliminar o outro , sem muita consideração .

Ao mesmo tempo , o exame da resistência em tomar o trivial como lugar da felicidade , também me levou a outros pontos.

O trivial pra mim sempre foi dúbio , ambivalente , amoroso e odioso , estreito e amplo, e aqui verifico o quanto a emocionalidade das situações de convívio, ditavam o céu ou o inferno do cotidiano , com seus rituais de coexistência.

Um estar além, mesmo sem saber aonde, me dava impressão de desafogo , um halo de transitório de algo que vai passar, e na frente a vida será outra.

Meus relaxamentos usuais se assentavam nos prazeres que os rituais proporcionavam, como uma boa comida , um encontro festivo em família , as farras com amigos, os namoros , enfim, uma linguagem comum , que conjugava também minhas exigências, meus conflitos e, por muitas vezes , a exarcebação de meu pertencimento ao futuro .

A liberdade de sonhar com outro mundo , por muitas vezes me pareceu um desejo de não-pertencer, a falta de identidade , principalmente em família onde o estar-ali , me parecia uma queda , um sufoco a qualquer pretensão maior .

Percebi, no entanto, que isso tinha haver com os nichos de mesquinharia que toda família tem em maior ou menor grau , aqueles momentos onde a vida em comum, determinada por laços biológicos, parece uma metafísica de algum desejo equivocado de algum Criador .

Mas a consciência maior é descobrir que esses nichos renegados , também existem em você e de tal forma , que descobre-se , não sem surpresa que o outro mal-dito , é o modo como você mal-diz .

Disputa-se lugar na família , no amor dos pais , a tal ponto diz Freud que o maior medo da criança é " perder o amor dos pais", o lugar radical do desamparo , a principal angústia da espécie junto com a da castração .

É difícil não se sair machucado da ordem familiar , descobre-se por exemplo, com Lacan que a completude é " uma antecipação à uma condição de dependência", uma precocidade que só funciona no imaginário , ou seja , a imagem esconde o que se depende.

E Hellinger diz que se é feliz " quando pai e mãe podem viver em nós livres ", afirmação ousada e importante , pois supõe a cura das projeções primárias, aquelas que Melanie Klein tão bem estudou e nos deixou como legado.

Mas o sutil aqui , me parece é que pai e mãe perdoados , é também nossa libertação pelo perdão , o receber o que foi possível com gratidão e devolver o que não nos pertence com consideração .

Hellinger de certa forma , recoloca em outros termos e com outra abordagem , um tema caro a análise Kleiniana , quando se trata da inveja e gratidão e principalmente na lida com os impulsos destrutivos que geram culpa e exigem reparação .

É preciso reparar e agradecer , o que significa reconhecer o que recebeu como alimento para matéria e para o espírito e tomar seu lugar na ordem familiar diferenciando os direitos próprios ao lugar e devolvendo com consciência o amor investido .

Em outras palavras só vive quem deixa viver , sem espaço para os pais viverem , a vida é opressiva , pois da mesma forma como vivemos nos pais, que abriram espaço para nos receber , temos o mesmo por fazer , trabalho árduo , pois muitas das feridas que carregamos encontram-se no cerne dessas relações .

Obviamente que esse pertencimento mesmo não tendo uma ordem regular , não permite negação do pertencimento , pois se nasce de alguém e é preciso considerar tal fato como a matriz do humano , já que essa ordem familiar é transgeracional , nos diz Hellinger, e se encarna, nos fazendo encarnar , inclusive , lugares de outros , já passados.

É nessa visada que a vida se rege pelo comum , um constante acerto consigo mesma , um aqui cheio de vida , de dores e alegrias que subjaz na forma de torrentes dinâmicas , que inclue o trivial com suas nuances e também os sonhos , a reparação que a ordem faz ao recolocar o que lhe é devido .

Hellinger , diga-se é um pensador de forte teor espiritual e sua concepção implica à diferença de Freud, uma Cosmovisão , mas uma imanência relacional ditada por ordens que estruturam a vida e parecem buscar sua reverência a um poder superior .

O trivial, ao mesmo tempo que se oferece como uma disposição , um modo como tudo se dispõe, é o lócus de um belo exercício espiritual , pois é o cenário oferecido pela vida para sua consagração , pois esse comum é aonde as forças profundas da alma se movimentam em sua busca de realização e instaura seus novos movimentos .

O Além, em seu nível operacional , é o modo como a alma orquestra seus movimentos pelos silêncios , pelo reconhecimento dos limites e pelo se deixar conduzir , o uso da ponte que nos leva ao desconhecido , mas que é regido por uma fonte que rege tudo.

Penso nos poetas , esses que parecem se nutrir tão disso , pois falam do familiar de uma forma não usual , descrevem o comum com imagens tão sugestivas que nos surpreendem , pois embora estejamos vendo o mesmo , na poesia é tão outro que lamentamos a falta de alcance de nossa linguagem.

No diário da vida inscreve-se o profundo , mesmo que em níveis superficiais , lembrando a "banda de Moebius" que Lacan consagrou , pois o que está dentro está fora e vice-versa , mas o que Hellinger parece ensinar é que mesmo em atos ordinários está contido todo extraordinário que rege os fenômenos singulares .

Hoje ao olhar o trivial , o comum , o cotidiano enquanto compasso do Cosmo , não vejo outra coisa, a não ser essa reverência que se começa lá no modo como fomos recebidos ,e veja-se aqui, a contribuição de Groff das vivências perinatais , e que torna nossa estadia por aqui um profundo momento de nossa alma , enquanto peregrina de um tempo eterno , de um tempo que, se não teve início , também não tem fim.

Agradeço o aqui , e agradeço o lá , agradeço o meu estar aqui , pelos amores que recebi e recebo e pela oportunidade de fazer valer a vida pela única capacidade que a faz despertar quando sai da inconsciência , o Amor.

Viva Hellinger

 

 

17.10.11


HOMENS : UMA QUESTÃO ATUAL

Criatura concorrida e mal-dita pelo gênero oposto , acusado de superficial e com fama de quem só quer comer ,um tipo guloso; lá está ele, o homem ! Egocêntrico por vocação , tende a auto-suficiência , e sabe como ninguém mascarar suas dores , é aquele que não faz análise porque acha que não precisa, nada que uma racionalidade narcísica supostamente não resolva.
Quem é ele?
Portador do pênis , o símbolo fálico, o que penetra , o que mostra a virilidade, conquistador por excelência , o homem traz na sua ancestralidade , a caça.
Fazedor de história , aprendeu que para viver é preciso lutar e mostrar força , pois em seu desafio tem o outro , ora como amigo, ora como rival. É tão necessitado de se exibir , como sofre de graves inibições não confessadas .
Aguçado na visão , tem forte relação com o mundo de fora , sua casa por excelência , ao mesmo tempo que seu mundo de dentro , é seu lugar analfabeto, onde, em geral , só se matricula por força de imposição da vida .
O símbólico não tem o refinamento dos sentimentos , já que tendo a razão como domínio , tem dificuldades em sentir , em se sentir , uma disposição que considera frágil e que é um dos pontos de entrave com as mulheres.

Se relacionar, a princípio é um ato erótico, e só depois se torna amor , um amor vinculativo com teor de macho e fêmea , que define de pronto, o código de quem manda e quem obedece . Se por um lado, a afirmação parece depender do poder de mando , por outro, também é um esconderijo para não se deixar ver.

Mas toda mulher sabe ou intue que se o homem não se sentir mandando , é como se estivesse manco , inferiorizado, e é capaz de muitas coisas para manter esse lugar , embora não passe despercebido , que haja nisso uma busca de afirmação .

Essa dialética que vicia não só os homens mas também as mulheres , tem favorecido a existência de um poder sinistro e dogmático onde muitas coisas se ocultam , já que se torna uma privacidade lacrada , máscara do que não se pode dizer.

Me parece um atavismo ancestral que expressa toda sua dubiedade , pois, se por um lado é o guerreiro que vai a luta e quer suas glórias reconhecidas, por outro , é frágil e dependente,  facilmente atingido em sua insegurança como macho , sua figuração primordial.

Robert  Johnson em sua trilogia HE, SHE , WE diz que o homem arquetipicamente s é portador de uma ferida que se não for reconhecida , irá persegui-lo a vida inteira .

Ferida esta, feita pelo apelo que a vida faz no sentido de separá-lo da mãe , pois tendo sido o filhinho da mamãe , perde seu reino e tem que ir em busca do que perdeu , se lançando em rotas perigosas que o testam sempre , o expõem sempre ,e que podem endurecê-lo, caso fique renegando o que dói , sua dor de existir , como dizia Lacan.

Se por um lado é "fazedor de paraísos", aquele que quer sempre tudo bem e “por favor, não me aporrinhe", tem como expediente usual o "superficializar" , ou seja, nada que ele tenha feito , ou a escuta que deixou de ter, merece observações críticas, já que, se ser criticado pra espécie é difícil , para o homem, mais ainda.

Ser criticado lhe traz forte senso de reprovação , a seu ver nunca merecida , o que lhe faz se fechar, e aqui um capítulo especial seria as fachadas usadas, como vítima ou intimidação, a jura de vingança , de certa forma presente nas hostilidades explícitas ou implícitas, com que mascara a dor que lhe foi infringida.

Falar de dor não é seu forte , aprendendo desde cedo que " homem não chora ", fez disso seu paradigma no trato com seus afetos , o que faz com que a imagem seja mais importante do que seu sofrimento , uma dor emudecida que não se diz , mas que se trai.

E se trai pelo sintoma ,pois é um grande sensitivo à morte pelo coração , o orgão espiritual que na medicina chinesa responde pelas angústias da alma , as asfixias de tudo que é guardado e superficializado .

Ao tirar a alma do profundo sacrificando sua integridade , se obriga a mentir para si mesmo, pois tenta traduzir suas aflições pelos modos objetivos de sua relação com o mundo. Quando na verdade , se trata do quanto essa objetividade , perde seus fundamentos e força, quando é destituída de seus modos subjetivos .

Jung diz que ao descaracterizar a "anima " , enquanto uma força profunda e intuitiva, regida pela própria alma , o homem se condena à estagnação da consciência , razão que o torna refém de uma racionalidade muito concreta. E concretude é o que não permite voar, pois torna a vida literal demais , com seus símbolos de ocupação , ou seja, tanto o poder , como sexo e dinheiro .

É aqui que um homem começa a morrer se não for além disso , difícil tarefa pra quem tem pouca transcendência e pouco sente , pois o mundo interno apenas simula sua submissão, quando na verdade , é quem nos domina , pois é o lugar onde reside a essência de nossa espiritualidade maior .

Ser homem tal qual o mundo ensina tem se mostrado um fardo , que aos poucos vem mostrando seus prejuízos , pois impõe uma formatação insaciável , o que se corre atrás e não se alcança nunca .Projeção correlata ao modo de consciência , ainda em seu núcleo, contém o conquistador , linguagem arcaica que denota virilidade e exigência , um "ideal de eu" caro , pois não se suporta fracassar ,e não fracassar é a negação da neurose .

Tudo só começa quando se fracassa , eis um momento de verdade única , a crise das entranhas onde se manda embora o narcisismo dos pais , e se suporta que não se é quem gostariam , e daí em cadeia , ou seja, não sou esse filho, esse marido , esse homem -mula , esse provedor , esse ganhador fantasioso .

Não; aqui , reconhece-se que nada é tanto , para poder se reconhecer também, que nada é tão pouco , tem-se uma crise de valor profundo ( que diga-se, nada a ver com esse jogo de auto-estima barato), um momento em que se vive uma ruptura que requer tanta coragem, que muitos se acovardam.
Mas é pegar ou largar , veja a sacação genial de Jung a este respeito:
“Quando se atinge um ápice da vida , quando o botão desabrocha e do menor emerge o maior, então, como afirma Nietzsche, “É-se transformado em dois”, e a figura maior , que sempre se foi , mas que permanecia invisível , aparece diante da personalidade menor com força de revelação. Aquele que é verdadeira e incuravelmente pequeno sempre há de arrastar a revelação do maior para baixo , até o nível da sua pequenez e jamais compreenderá que alvoreceu o dia do julgamento de sua pequenez" 

Para o homem a mulher é dúbia , aquela que ao mesmo tempo que lhe concede a glória lhe manda ao inferno de si mesmo .
A glória, enquanto passagem de nível, uma graduação a mais no campo da inserção consciente na vida , tudo que lhe permite ter o ganho de quem se conquista , de quem sai da infância , de quem se liberta do jugo materno , de quem busca o orgulho do pai , um passo na direção da emancipação que o livra da eterna regressão e retardamento .

Diz Jonhson" A mulher para o homem é gestação da consciência ", aquela consciência que sozinho não seria possível , pois ficaria preso nas grades de um modo coletivo e genérico , com pouca força de individuação . Isto é ," um homem vazio " , de muita aparência e de pouco conteúdo , talvez, e suspeito disso , o que leva às perversões , inclusive à pedofília.

Por outro lado , é incrível ver sua capacidade de enfrentamento , pois sendo um conquistador , faz tudo avançar, pois sua gana de conquista movimenta o mundo , e o leva a lugares inexplorados , pois aí, nessa ordem territorial, é o próprio filho da Terra , aquele pra quem a Terra mostra seus segredos e o convida a ocupar .

Tem para com os seus uma deferência toda especial , e se por um lado foge da dor , por outro é capaz de sofrer muito pelas dores dos que ama , mesmo que a seu modo.Sofre a impotência perante os desígnios do destino e da ordem oculta da vida , pois teme o que escapa ao seu controle, o que lhe torna um "preocupado" constante.

No campo dos sentimentos a maioria é analfabeta , pois sendo uma linguagem do amor e da fluência , tal como Isis na margem do rio passando água de uma jarra para outra ,há um choque com o padrão mental estabelecido , que tende a tratar sentimentos como algo menor.

Uma tendência depreciativa que tem custado caro aos relacionamentos , pois em contrapartida diz ainda Jonhson " A mulher quer ser amada" ,e como ser amada sem falar de sentimentos? .A celébre cantilena " discutir relação " já mostra o quanto enfadonho é se tocar nisso .

Futebol, dinheiro , amigos , turma , tudo rola; mas sentimentos, não . O contraponto estabelecido pela racionalidade evasiva , identifica aí um campo perigoso aonde se sente mal preparado e em perigo , pois na fala da mulher ( que diga-se, nem sempre ajuda  quando confunde o dizer com um rosário de queixas acumuladas), se vê perante sombras que só podem vir à tona por denúncia .

E ser denunciado pelas sombras , que as palavras da mulher evocam , é um martírio sem igual , a ponto de um homem dizer, que brigar com a mulher, o colocava em estado de surto psicótico. Eis a força das sombras , que só a mulher trás , o anjo que vira demônio quando se entrega a tal tarefa.

Mas convém observar, que precisamos uns dos outros , e que nossa realização depende de reconhecermos tal verdade , pois a diferença, é sem dúvida, o grande catalizador da vida , e esse esforço é o que nos permite evoluir enquanto raça e indivíduos dotados de uma singularidade cósmica .

E aqui ,a grande confissão, é que somos movidos a carinho , algo que custamos a pedir e exigimos quase uma submissão telepática da mulher , como se isso amenizasse a reprovação já citada, embora, ao exigir mais do que pedir , nos vejamos mais próximos da recusa do que da compreensão .

Se a mulher quer ser amada, o homem parece querer ser compreendido e tem em si uma estranha sensação de não sê-lo , uma solidão amarga de quem confunde a incompreensão com o desejo de ser absolvido sem se comprometer.

É como se precisássemos ser perdoados antes do crime , um estranho vício esculpido  milenarmente na alma ,pois se tornou o modo como forjamos inocência nos lugares onde nossas assinaturas não permitem dúvidas , nos dando a ilusão de estar fora , justo onde estamos mais dentro.

Tenho a impressão que isso irá demorar um pouco a se clarear em razão do forte teor emocional presente em tal questão , principalmente pela quebra dos modos projetivos, onde os erros parecem abalar toda estrutura do edifício , tipo " se você acha isso de mim, então, só me resta “ ir embora" , reação tão exagerada, como um tipo de pressão para se calar a boca de quem denuncia.

No entanto, algo parece se ensaiar e evoluir pelos campos do acasalamento , que diga-se, é um direito de todos , pois pertencemos, como ressalta Hellinger, à "Ordem do Amor" e como tal, somos criaturas que desenvolvemos a consciência amando , daí, nosso aprendizado para amar com uma qualidade menos projetiva , onde a vida amorosa seja vista como uma grande celebração de dois , com gosto diferenciado de un -ião .

É a forma de celebração onde a presença de um amor verdadeiro liberta os sexos para novas possibilidades no campo da consciência , onde o cada um possa ser o esteio do próximo nível do outro , uma mediação entre o que se está e o que pode vir- a- ser , o gosto de se ficar com gratidão e de ir cheio de alegrias no coração , sabendo-se como diz "Érica Jong" , a grande autora americana , “que vive-se melhor e com amor quando se sabe que vai morrer”.

Minha homenagem especial aos homens que me ajudaram a me construir e a todos que me ensinaram e me ensinam a difícil arte de ser um homem e amar , já que compartilhamos juntos este desafio, e ao olhar para o lado, não deixo de ver o quanto buscar outro modo de consciência, parece ser o desafio máximo.

Se por um lado somos viris, guerreiros ou provedores , por outro, lá dentro bate o coração, em geral, emudecido por tudo que não conseguimos falar, uma estranha solidão não solicitada, mas um tipo de moradia perene , onde as mulheres lutam para entrar.

E deixá-las entrar é o risco , o momento máximo da ambivalência, pois pode significar tanto nossa redenção do medo de amar , como nossa subjugação à dependência materna que o inconsciente insiste em repetir .

VIVA OS HOMENS!  VIVA OS GUERREIROS VALIOSOS NA ARTE DA GUERRA  E CONFUSAS CRIATURAS NO REINO DE AFRODITE MAS UM LUGAR ONDE DEUS MOSTROU O VALOR DA COSTELA .










3.10.11

Foram os cabeludos que mudaram o mundo


Por estes dias meio nostálgicos e cheios de sol , consultório em obra e tendo que permanecer por aqui , resolvi ver o vídeo de um conjunto que possivelmente marcou muita gente , Creedence Clearwater Revival e viajei longe .

Primeiro a alegria dos caras , aqueles que você sente o prazer de quem ama o que faz , John Fogerty a frente , o grande gênio e compositor da maior parte das canções , seu irmão Tom , parceiro de algumas e mais dois outros caras , vejam só :

Creedence Clearwater Revival foi uma banda de rock californiana formada por John Fogerty (guitarra e vocais principais), Tom Fogerty (guitarra), Stu Cook (baixo) e Doug Clifford (bateria), que, sob outras denominações, tocavam juntos desde 1959.

Adotaram o nome Creedence Clearwater Revival em 1967, com o qual lançaram as primeiras gravações em 1968. O nome surgiu pela junção do nome de um amigo de Tom Fogerty, Credence Nubal, com Clearwater, uma cerveja da época e Revival, simbolizando a união entre os membros, que já tocavam juntos desde 1959. Ao nome de Credence, adicionaram um e para lembrar creed (crença, credo).[1] Em 1968 obtiveram o primeiro disco de ouro, com o álbum de estreia, Creedence Clearwater Revival.

Ao longo da carreira, entre singles e álbuns, conquistaram nove discos de ouro e sete discos de platina. Separaram-se em julho de 1972. John Fogerty foi quem teve mais êxito na carreira solo. Seu irmão Tom faleceu em 6 de setembro de 1990. Em 1993 o Creedence Clearwater Revival foi introduzido ao Rock and Roll Hall of FameHYPERLINK \l "cite_note-1"[2].

Recentemente, Stu Cook e Doug Clifford formaram o genérico Creedence Clearwater Revisited, e passaram a excursionar pelo mundo, tocando antigos sucessos da banda original ."

Sensacional vê-los em ação ! nossa, que belo astral , e que energia de renovação ! Época que a revolução dos costumes começava a se expandir pelo mundo , chegando a nós , sempre um pouco atrasados , mas não teve quem não dançasse ou se sacudisse ao som das baladas , que de verdade pouco diziam , como a maioria delas, mas o som, o som , era o que importava , equem curte rock, sabe que os arranjos , as guitarras principalmente , eram a senha para o astral ,para tudo que queria abrir , a sede do mais, o gosto da des-repressão , mas com som e muita dança.

Woodstock foi o ápice , clamor de toda uma geração e liberdade ( sempre é bom lembrar que liberdade é conceito temporal e que figura dentro de um registro histórico) , festival de tudo , de corpos , sexo , maconha ( a principal) , alegrias miI , muito som e contato , com um detalhe , a saber, eram todos cabeludos , homens e mulheres .

Se os Beatles , já tinham promovido a celebração de um novo tempo , mudando energéticamente os conceitos , e com talento inconteste toda concepção de uma ruptura anunciada desde a juventude transviada de James Dean , os hippies encarnaram as mudanças no seu cotidiano , buscando outra forma de ser e viver.

Heman Hesse , Marcuse , Gurus e o fascínio dos ensinamentos espirituais do Oriente , desde Mahatma Gandi até o Maravishi dos Beatles , com participação de Ravi Shankar , pra quem não sabe , pai de Nora Jones, a cantora premiada de jazz , que deixou 18000 pessoas na rua que não puderam entrar em seu show em S.Paulo.

Caraca, coisa boa, tanta mudança , muita adrenalina e muito apelo para outra coisa , outra cena , não tanto do inconsciente , mas pelo contrário , além do consciente chato e masmorrento que regia os padrões já surrados e monótonos de um mundo que já pedia para ser outro .

Pois a rapaziada escutou em si estes apelos e se lançaram , nada de guerras idiotas e sem nexos ,em nome sei lá do que e fora com Vietnam e fora com brutalidades , um romantismo delicioso e valente , chocante aos olhos conservadores , mas irreversível , a força e o clamor de uma juventude que resolveu mostrar a cara e dizer o que não queria mais pra si .

Se por um lado não havia como segurar os exageros (vejam a hybris e o metrum , a ser lançado no blog ) que lamentavelmente levou muita gente jovem, conhecidas e anônimas, embora , por outro, abriu espaços e mudou completamente o desenho do tecido social , redescobrindo o valor do improviso e da criação , crítica direta à consciência laranja apontada por Wilber e da des-humanização do capitalismo festejado principalmente pelos ricos em detrimento dos pobres.

Um mundo de potências ameaçadoras , de destruição nuclear a nos invadir o imaginário , de ditaduras e assassinatos impiedosos , dividido entre duas concepções ideológicas de direitas e esquerdas , tudo empurrado goela abaixo , cheio de contradições inexplicáveis e de mentiras nada convincentes .

Os cabeludos , mesmo não atentando para toda complexidade em jogo , resolveram desafiar o sistema e com o slogan " paz e amor " entraram na luta por um mundo melhor , "faça paz , não faça guerra ". Adotando postura no estilo de Henry Thoreau que dizia "Quero me defrontar apenas com os fatos essenciais da existência, em vez de descobrir, a hora da morte, que não vivi".

Naturista e rebelde Thoreau , queria expulsar da floresta , sua casa por opção e consoante com uma vida simples e natural , " tudo que não fosse vida", propondo que deveríamos desobedecer , seu livro empolgante , pois para ele em sua crítica ao Estado: "O melhor governo é o que menos governa".

Era hora do basta , do "chega de nos dizer o que fazer ou o modo com deveríamos ser" uma guerrilha ao" ideal de eu"proposto pelos modos conservadores e já pouco convincente para quem queria muito mais .

Relações burocratizadas e institucionalizadas em formas estereotipadas , como o casamento por exemplo , ou como construir família e se tornar um bom homem , pagador de impostos, cumpridor de deveres e obrigações , era visto como uma sentença a ser cumprida , já que a forma era a mesma há milênios .

Uma revolução nos costumes , como disse, e na relação do público e do privado ,pois não haveria esta autoridade prévia a dizer o que deveria ser feito , tudo era novo e experimental , partia-se para pesquisa relativa aos estados alterados de consciência , a vida para além do ego, nossa, quanta coisa incrível e cheia de desejo de descobrir .

Alan Watts e Thimoty Leary , a nos dizer das possíveis iluminações pelo LSD , um tipo de anúncio empolgante , mas que se mostraria equivocado na sequência , já que aí a questão é mais complexa , mas que de certa forma, apontaria para os ventos que trazem dúvidas às certezas estabelecidas na equação vida-morte , que nos instiga cada vez mais .

O espírito vigente da liberdade incidia de imediato sobre as roupas , estilo solto de poucas combinações , algo como , mais à vontade de se vestir como se quer, do que de combinar , outro front onde o padrão estabelecido e portador das estéticas convencionais sofreria duros golpes , que rapidamente absorveria trnasformando em moda , um novo estilo a ser oferecido nas vitrines .

Hoje é " normal" ver um senhor com cabelos compridos e presos, tipo rabo de cavalo , coisa impossível de ser concebida a pouco tempo atrás , ou senhoras com cabelos vermelhos e adornadas exoticamente , herança valente que ousou minimizar a importância do olhar do outro em nossas vidas particulares e em nosso direito de experimentar combinações assimétricas , mais pra bandana do que pra buquê .

Mundo vivo, intenso , cheio de propostas , de grandes debates, desde a influência do sistema social na regência do particular , até a direção do mundo como um lugar de todos , uma nova forma de ver e viver , algo pelo que lutar, uma boa e bela causa , onde a vida parecia se dizer melhor .

Mudou o mundo , mudamos nós e meu vídeo que repeti duas vezes está acabando , e eu também vou me despedindo , escrevo já com os efeitos da nova revolução que possivelmente , não agradasse tanto a Thoreau , pois passamos a um modo virtual de ser , onde os estados alterados e experimentais parecem mais próximos da esquizoidia social , do que de uma nova realidade transcendental.

A vez é dos carecas , dos modelitos ensaiados para mídia , dos moicanos bem estudados para os flashs , mas sem dúvida, também de outros ganhos, principalmente tecnológicos , uma rede social de criaturas virtuais que vão descobrindo seus modos de transformar o mundo, de influir nos destinos sociais , de participar da história e de amar , um novo tipo de virtuosismo onde o virtual é que decide o depois.

Interessante , pois inverte o comum e propõe novos desafios , onde cada um haverá de fazer suas apostas , já que o terreno pós- moderno é de todos e de ninguém em particular, uma condição sem nomeações , sem muitos endereços e sem sistemas maiores para se socorrer .

Uma mexida no narcisismo que para alguns é a grande mazela atual do mundo, pois na perda de referência do familiar, o mundo ficou mais impessoal , um lugar onde o sujeito tem o seu valor pela performance de mercado que, cada vez mais exigente, vem deixando de fora muita gente que, por sua vez, tende a buscar um melhor lugar para viver .

A questão dos lugares e territórios vem exigindo novas remarcações , pelo aproveitamento de todos , já que não se pode conceber uma ordem sócio-familiar que só caiba os seus , pois aos poucos e graças aos cabeludos e barbudos , começamos a enxergar que o mundo é de todos e que nossa cidadania é universal, outra fronteira que os cabeludos enfrentaram , deixando crescer os cabelos além dos limites demarcados .

Ah! desculpem a celebração! É que gosto muito dos meus cabelos encaracolados e símbolo de uma época que faz parte de mim e que reviso sempre , uma escola de fortunas e de confrontos que evitam as acomodações , embora reconheça que tudo passa e muito já passou , e que John Forgety hoje, é gordo e careca , mas continua vivo como arte e talento , a memória eterna do que é bom .

Valeuuuuuuuuuuu aí o do cabelo grande

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Há ou não inveja do pênis?